Pedaços de memória
Afonso Loureiro
A arquitectura não se resume à definição das formas e divisão interior de um edifício. Deve contemplar também os elementos decorativos que lhe confiram uma identidade e que o distingam de uma caixa onde se aglomeram pessoas.
Avenida do Comandante Valódia (Combatentes)
Ao definir essa identidade, a casa passa a fazer parte da vida das pessoas, que a reconhecerão como uma extensão de si mesmos. Mesmo os moradores das habitações mais modestas sentem a necessidade de as marcar com algo que os defina ou com o qual se identifiquem.
Avenida Marien Ngouabi (António Barroso)
Uma voltinha pelos bairros periféricos da Luanda colonial permite-nos encontrar muitas dessas pequenas marcas que fazem parte das memórias de quem cá vive ou viveu. Algumas delas são agora usadas como pontos de referência para nos deslocarmos na cidade.
Avenida do Comandante Valódia (Combatentes)
Por vezes, a identidade de um edifício não é a que o arquitecto projectou. Pode mesmo ser usurpada pela de um dos ocupantes, como a que provém dos letreiros dos negócios lá instalados.
Nos edifícios maiores, a identidade colectiva impera. Muitas famílias se identificam com os mesmos elementos por viverem todos debaixo desses símbolos.
Perto do Aeroporto
Nas moradias a situação é diferente. Os símbolos que ostentam são muito mais pessoais e a sua escolha é ditada pelas sensibilidades de um grupo muito mais restrito. Prefere-se o concreto ao abstracto e o nome do morador ou a paisagem da terra que amam sobrepõem-se às coisas mais vagas que se vêem nos grandes edifícios.
Perto do Aeroporto
Para os prédios altos são escolhidos símbolos que representam ideais ou valores colectivos, procurando que as interpretações que cada um faz deles sejam parte desse mesmo ideal.
Sei que haverá quem recorde estes recantos que hoje mostro. Espero que me contem histórias ligadas a eles, porque uma cidade não são apenas as casas, são também as pessoas e Luanda tem a particularidade de juntar duas cidades numa só – a colonial e a actual. As pessoas da Luanda actual contam-me como a vivem, mas falta-me conhecer como quem partiu vivia a cidade.
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