As contas do futebol
Afonso Loureiro
Nunca fui muito dado ao futebol e não compreendo como pode haver tanta histeria em torno de um espectáculo. Há muito que o futebol profissional deixou de ser um desporto, para se tornar numa versão moderna do circo romano. Não percebo as clubites ferrenhas, os ideiais de equipa inexistentes mas em que todos acreditam ou até os sacrifícios que muitos fazem para ir ver a bola. Acho que nunca perceberei.
Quando era pequeno, achava que um campeonato de futebol era uma coisa excessivamente longa, com jornadas atrás de jornadas e jogos com mais jogos e jogadores que todos conheciam, mesmo das equipas mais obscuras. Eram-me incompreensíveis as contas aos pontos, aos jogos e aos golos de cada equipa e a sua influência na posição final. Já na altura me fazia imensa confusão a maneira como as pessoas viviam o futebol, com buzinas e desfiles sem sentido sempre que a sua equipa ganhava qualquer coisa.
Como a liberdade de cada um termina onde começa a do vizinho, não tenho por hábito incomodar os outros com os meus festejos e por isso, da parte que me toca, sempre torci pela equipa com os adeptos menos expansivos.
Assim que começou o campeonato africano de futebol tive uma amostra dos festejos ruidosos que os angolanos fariam caso a sua equipa marcasse golos ou ganhasse jogos. Apesar de gostar de ver os angolanos felizes com as vitórias da sua selecção, sabia que os resultados que me trariam noites mais descansadas seriam os menos desejados pela maioria.
Pela primeira vez na vida dei por mim a fazer contas de cabeça aos pontos de cada equipa do grupo de Angola, tentando calcular quanto jogos ainda seriam necessários até poder voltar a ter noites sem cornetas e buzinas ou gritos de “Vitória! A taça é nossa!” dados por gente bêbada. Angola acabou por perder o jogo contra o Gana e julguei que teria sossego, mas enganei-me.
Embora não houvesse muito que festejar, o ajuntamento em torno dos televisores era o pretexto para beber mais umas cervejas e aproveitar a noite. A chuvada que se seguiu à partida ajudou a refrear os ânimos de quase todos, fazendo com que as festas ao ar livre terminassem mais cedo, mas um grupo de rapazes bem bebidos achou que a chuva quente não os incomodaria durante uma partida de futebol improvisada debaixo da janela do meu quarto.
Até às duas da manhã andaram a correr só de calções e chinelos atrás de uma bola que flutuava no rio em que se tinha transformado a rua, gritando e festejando golos marcados entre os carros estacionados. Eu, na tribuna, por assim dizer, não tive outro remédio senão assistir à partida até ao fim. Felizmente que foi a última.
Espero q agr entendas porquê q os africanos na tuga têm sempr a policia a porta d casa por causa do barulho. Nao estamos habituados ao civismo. Nessa terra ninguem reclama do barulho.
Ola Afonso, ha muito tempo(anos) que leio o seu blog, mas nunca fiz um comentario. Hoje faco uma excepcao,e é para dizer-lhe OBRIGADO por trazer-me Angola(muita saudade) até a Alemanha,onde moro, e foi este “post” que me obrigou a fazer-lo.Obrigado, por deixar os rapazes jogar a bola(mesmo que…….).Obrigado, por ter assistido desde a tribuna(ainda que…….).Tudo isto porque hoje voce troxe-me incriveis recordacoes,por tudo semelhantes. Local: Largo Albano Machado (fui ver ao Google Maps.Donde era o colegio Algarve, perto da igreja Sagrada Familia)Vou ter uma lagrima no canto do olho quando voce deixar Angola.MUITO OBRIGADO.
Também já vi jogar à bola nesse largo. Tenho de lá ir fazer umas fotografias.