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19  08 2008

A árvore de pernas-para-o-ar

Dizem os mais-velhos que não há embondeiros novos. Já nascem velhos. E talvez tenham razão.

No meio da savana contemplam o mundo com o vagar adquirido através da experiência. Tal como os mais-velhos de carne e osso, estes mais-velhos de madeira e seiva têm gestos económicos. Não se agitam ao vento e só têm folhas na altura devida.

A explicação para o provérbio até é simples. Os embondeiros novos têm folhas e ramos muito diferentes dos da árvore adulta. Quando nascem dão a ideia de que se vão tornar numa árvore muito diferente. Por outro lado, uma árvore adulta terá mais de 200 anos e poucos terão assistido à transição do rebento para a árvore feita…

Como os embondeiros se propagam por semente e quase não precisam de água para germinar, é raro que sejam plantados. Nascem simplesmente. Como a sua madeira não é muito boa para a construção ou para lenha, vão crescendo disfarçados até se tornarem numa referência na paisagem.


Mais-velho

Na estação húmida cobrem-se de folhas verde-escuro, com cinco dedos, que imitam mão na ponta dos longos e ossudos braços da copa. Durante a estação seca mostram uma copa despida com uma sombra ténue que contrasta com a do tronco. A madeira porosa armazena quantidade prodigiosas de água, o que permite enfrentar longos períodos de seca e resistir aos fogos. Um outro nome para o embondeiro é árvore-garrafa, porque se pode fazer um furo no tronco e recolher água.

A imagem habitual do embondeiro é a da estação seca. Apesar do seu aspecto peculiar, parecendo uma árvore morta, não consegue disfarçar a vida que pulsa atrás da casca grossa.

O embondeiro é parte integrante da cultura de muitos povos. Nas zonas mais desérticas, um baobá, como é chamado noutras partes de África, significa gente. As aldeias desenvolvem-se à volta da árvore que sempre existiu e que nunca foi nova. De uma certa maneira é a árvore da Criação. Nasceu com o mundo, já velha. Respeita-se os mais-velhos. O seu saber é imenso. Há um provérbio que diz “A Sabedoria é como o tronco do embondeiro. Uma só pessoa não o consegue abarcar”.

A sua imagem de marca, com os ramos nus e revoltos faz com que às vezes seja chamada de árvore de pernas-para-o-ar. Há várias lendas que sustentam este nome. A mais comum é a de que depois da Criação, cada animal foi incumbido de plantar uma árvore e que a hiena plantou o baobá de pernas para o ar. Os árabes têm uma versão em que o Diabo desenterrou a árvore, enfiou os ramos na terra e deixou as raízes no ar.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

5 respostas a “A árvore de pernas-para-o-ar”

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  1. Já falaste num post anterior que os embondeiros são o simbolo africano e de Angola, mas eu nunca pensei que uma árvore com um aspecto tão peculiar tivesse tanta vida e alguma utilidade.

  2. Temos de provar gelado de múcua… 😉

  3. Gostava de ver ao vivo um embondeiro. Devemos parecer minúsculos perante a imponência dessa árvore de pernas para o ar. Lembrei-me da descrição que é feita n’O Principezinho:
    (…)”os embondeiros não são arbustos , mas árvores do tamanho de igrejas, e que, embora levasse consigo uma manada de elefantes, essa manada não seria capaz de dar conta de um único embondeiro.”
    Embondeiros de saudades.

  4. Olá! Faz 3 dias hoje (10-12-11) que regressei de Angola. Sou eng civil e estou trabalhando na fiscalização de estradas neste país, onde retornarei no início de janeiro.
    Uma das árvores mais lindas que vi foi o embondeiro (lá, em documentos de órgãos púb;icos, vem impresso no final da página o desenho deste àrvore, porém com o nome de IMBONDEIRO.
    Desejo saber como ela é plantada, pois trouxe algumas sementes desta maravilhosa àrvore. Tenho várias fotos delas, se desejar poderei enviar algumas.
    Um abraço.

    Carlos Lobão.

  5. Há muitas grafias para embondeiro e também muitos nomes para a mesma árvore. Embondeiro, imbondeiro, baobá, micondueiro, etc., etc. Para a plantar, é melhor procurar conselhos de especialistas. Em Angola só me disseram que já nasciam velhos.

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