A árvore de pernas-para-o-ar
Afonso Loureiro
Dizem os mais-velhos que não há embondeiros novos. Já nascem velhos. E talvez tenham razão.
No meio da savana contemplam o mundo com o vagar adquirido através da experiência. Tal como os mais-velhos de carne e osso, estes mais-velhos de madeira e seiva têm gestos económicos. Não se agitam ao vento e só têm folhas na altura devida.
A explicação para o provérbio até é simples. Os embondeiros novos têm folhas e ramos muito diferentes dos da árvore adulta. Quando nascem dão a ideia de que se vão tornar numa árvore muito diferente. Por outro lado, uma árvore adulta terá mais de 200 anos e poucos terão assistido à transição do rebento para a árvore feita…
Como os embondeiros se propagam por semente e quase não precisam de água para germinar, é raro que sejam plantados. Nascem simplesmente. Como a sua madeira não é muito boa para a construção ou para lenha, vão crescendo disfarçados até se tornarem numa referência na paisagem.
Mais-velho
Na estação húmida cobrem-se de folhas verde-escuro, com cinco dedos, que imitam mão na ponta dos longos e ossudos braços da copa. Durante a estação seca mostram uma copa despida com uma sombra ténue que contrasta com a do tronco. A madeira porosa armazena quantidade prodigiosas de água, o que permite enfrentar longos períodos de seca e resistir aos fogos. Um outro nome para o embondeiro é árvore-garrafa, porque se pode fazer um furo no tronco e recolher água.
A imagem habitual do embondeiro é a da estação seca. Apesar do seu aspecto peculiar, parecendo uma árvore morta, não consegue disfarçar a vida que pulsa atrás da casca grossa.
O embondeiro é parte integrante da cultura de muitos povos. Nas zonas mais desérticas, um baobá, como é chamado noutras partes de África, significa gente. As aldeias desenvolvem-se à volta da árvore que sempre existiu e que nunca foi nova. De uma certa maneira é a árvore da Criação. Nasceu com o mundo, já velha. Respeita-se os mais-velhos. O seu saber é imenso. Há um provérbio que diz “A Sabedoria é como o tronco do embondeiro. Uma só pessoa não o consegue abarcar”.
A sua imagem de marca, com os ramos nus e revoltos faz com que às vezes seja chamada de árvore de pernas-para-o-ar. Há várias lendas que sustentam este nome. A mais comum é a de que depois da Criação, cada animal foi incumbido de plantar uma árvore e que a hiena plantou o baobá de pernas para o ar. Os árabes têm uma versão em que o Diabo desenterrou a árvore, enfiou os ramos na terra e deixou as raízes no ar.
Já falaste num post anterior que os embondeiros são o simbolo africano e de Angola, mas eu nunca pensei que uma árvore com um aspecto tão peculiar tivesse tanta vida e alguma utilidade.
Temos de provar gelado de múcua… 😉
Gostava de ver ao vivo um embondeiro. Devemos parecer minúsculos perante a imponência dessa árvore de pernas para o ar. Lembrei-me da descrição que é feita n’O Principezinho:
(…)”os embondeiros não são arbustos , mas árvores do tamanho de igrejas, e que, embora levasse consigo uma manada de elefantes, essa manada não seria capaz de dar conta de um único embondeiro.”
Embondeiros de saudades.
Olá! Faz 3 dias hoje (10-12-11) que regressei de Angola. Sou eng civil e estou trabalhando na fiscalização de estradas neste país, onde retornarei no início de janeiro.
Uma das árvores mais lindas que vi foi o embondeiro (lá, em documentos de órgãos púb;icos, vem impresso no final da página o desenho deste àrvore, porém com o nome de IMBONDEIRO.
Desejo saber como ela é plantada, pois trouxe algumas sementes desta maravilhosa àrvore. Tenho várias fotos delas, se desejar poderei enviar algumas.
Um abraço.
Carlos Lobão.
Há muitas grafias para embondeiro e também muitos nomes para a mesma árvore. Embondeiro, imbondeiro, baobá, micondueiro, etc., etc. Para a plantar, é melhor procurar conselhos de especialistas. Em Angola só me disseram que já nasciam velhos.