O pó dos desvios
Afonso Loureiro
Numa das nossas voltinhas pelos arredores de Luanda, resolvemos ir até à praia.
Inesperadamente, a estrada que liga Luanda ao Sul estava cortada. O trânsito era desviado para umas estradas de terra que de estrada só tinham o nome. Pó por todos os lados. Carros que se contorciam a contornar os buracos, tentando não ficar atolados na areia fina. Vários quilómetros de pára-arranca. Os carros que habitualmente circulam na estrada de asfalto, aqui, todos juntos, parecem muitos mais do que realmente são.
Trânsito compacto
O pó que levantam faz desaparecer o horizonte. Obriga-nos a manter as janelas fechadas e ligar o ar condicionado. Está calor e passa muita gente de janela aberta. O suor escorre-lhes da cara e deixa riscos escuros numa pele coberta de pó branco. Quase parecem louros.
O pouco vento que há, arrasta o pó ao longo da estrada, mantendo tudo debaixo de uma névoa artificial que coa a luz do sol e muda a cor ao metal, ao vidro, às árvores e às pedras.
Pó
A espaços, os carros à nossa frente começam a desviar-se de perigos invisíveis. Umas vezes são valas fundas, outras são zonas de areia fina ou de buracos mais perigosos. Às vezes é um pesado que se materializa uns metros à nossa frente. Surge da poeira como se o pó se tivesse aglutinado naquele instante e assumisse a forma de um camião. Desviamo-nos também. Um pouco depois, o condutor atrás faz o mesmo. O camião passa e o carro da frente já foi engolido na nuvem que se segue…
Surpresa
Saudações de um blogueiro amigo de Angola!
Por breves momentos pensei que tivesses visto surgir da nuvem de pó El-Rei D. Sebastião (não é o mesmo que nevoeiro, mas nunca se sabe), mas não foi apenas um camião.
Num dia de sol, havia altura com 5 metros de visibilidade… ténue!