Destino África-Cacém
Cristina Ribeiro
O relógio marca 18:00, mais um dia de trabalho que chega ao fim (daqui a uns meses já não será bem assim), preparo-me para arrumar e regressar a casa.
Saío da empresa e no caminho até à estação de comboios, despeço-me da cidade, da sua azáfama, do seu corre-corre e da sua agitação. Amanhã regressarei.
Na estação de comboios, enquanto espero, lanço um último olhar sobre a cidade, a correria é muita, todos se preparam para regressar a casa, as filas de carros são intermináveis e todos querem chegar primeiro, uns apitam, outros protestam. O comboio chega e antes de entrar, ainda vejo a bandeira angolana que se agita ao vento, como quem diz adeus a quem parte, estou certa que poucos a viram.
Finalmente estou a caminho de casa, mais vinte minutos e chego a Agualva-Cacém.
Ao chegar à estação, apercebo-me que estou numa terra distante (ou será a mesma de sempre…), em que centenas de africanos, também regressam a casa dos seus trabalhos.
Uns passos mais à frente vejo zungueiras (e não são visões), umas vendem doces de côco, outras maçarocas de milho pronto a comer e maçarocas por cozinhar, umas vendem roupa interior, outras enchidos…
Por momentos, penso que saí no destino errado ou será que viajei numa casca de ginguba… vejo que não, estou no destino correcto e continuo o caminho até casa.
Chego finalmente a casa, depois de um dia de trabalho sabe bem o aconchego do lar. Vou à janela espreitar e vejo crianças a brincar e penso mais uma vez que estou em África…
As brincadeiras
Na realidade estou em Portugal, mas o meu coração está em Angola e por isso a minha sensibilidade para esta realidade está mais desperta.
Amanhã é outro dia e sei que vou chegar à estação de Entrecampos e terei a bandeira de Angola a acenar como que a dizer “Bom dia Alegria!”
O mundo está a ficar cada vez mais pequeno e até as paisagens se tornam semelhantes.
Será que as zungueiras do Cacém também conhecem o segredo da ginguba e vêm dormir a Luanda?
Monte Abraão também é uma província Angolana?