Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

23  10 2008

Time-share

O conceito do time-share foi desenvolvido para permitir o acesso de muita gente a algo caro ou exclusivo, sendo que cada uma pode usufruir do bem durante um período de tempo.

Os utilizadores das primeiras main-frames regiam-se pelos horários ditados pelo time-share. Os seus terminais tinham acesso ao computador central apenas durante algum tempo. Depois dava-se a vez a outro.

Entretanto, houve uns senhores que resolveram aplicar este conceito às casas de férias. Já que passam grande parte do ano desocupadas, porque não terem vários donos, que as vão usando à vez. É claro que esta é uma excelente maneira de vender uma casa pelo triplo ou quádruplo do preço.

Em Angola, pouca gente há que precise de usar uma main-frame, até porque os computadores centrais já caíram em desuso. Menos há quem queria ir passar uma semana de férias a uma casa partilhada com mais 51 famílias. É demasiado parecido com o que se passa em alguns edifícios de Luanda. Mas cá também há time-share. Aplica-se às peças de automóveis.

Por cá, a dada altura, há cerca de 80% das peças necessárias para que os automóveis circulem normalmente. Mesmo os importadores não conseguem explicar como têm sempre as peças de substituição esgotadas. O certo é que se alguém partir um farolim não consegue comprar um novo. Não há, não se encontra, nunca houve e não volta a vir. A solução é recorrer ao time-share. Procura-se com peças compatíveis, cujo time-share esteja a terminar, e recolhem-se as peças.

Os contratos de time-share têm durações determinadas por diversos factores, como sejam o estado de conservação, a idade da peça ou da oportunidade do próximo locatário.

Voltemos ao exemplo do farolim partido. Como não se consegue arranjar a peça nova no representante, procura-se um carro do mesmo modelo com um farolim intacto e de aspecto novo. Agarra-se numa chave de parafusos e o contrato de time-share é transmitido para o novo locatário. Nada mais simples. E, uma vez que já se teve o trabalho para um farolim, leva-se também o outro, não vá ser preciso.


Terminou o contrato de usufruto do farolim esquerdo

O dono da viatura que agora não tem farolins terá de fazer o mesmo e procurar outros farolins que estejam prestes a mudar de mãos…

Quem diz farolins, diz espelhos retrovisores, diz piscas, faróis, puxadores de portas, frisos e pára-brisas.


Evitando time-share

Há pessoas que se lembram de abusar dos seus direitos e travam os vidros, os espelhos e os faróis com pequenos ganchos de metal ou escondendo os parafusos atrás de uma resina. É uma clara violação ao conceito de time-share!


Violando o time-share

Há mesmo quem vá mais longe e tenha a ousadia de amarrar as rodas suplentes com grossas correntes ou instale porcas anti-roubo. Que descaramento! Se tiver um furo, onde hei-de eu arranjar uma roda para trocar. Querem ver que tenho de usar a minha?

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

3 respostas a “Time-share”

Nota: Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados.
  1. hi!hi!
    Estou a ver que é o “salve-se quem puder”!!!

    Boa sorte, para que não tenha de usar o time-share.

    Maria

  2. Em Portugal também houve esse conceito durante uns anos com as antenas de enroscar.

    Parece-me que nesse particular, o conceito já caiu em desuso. Pergunto-me se terá sido uma moda importada de Angola?

  3. As pombinhas da “Catrina” também andaram de mão em mão, mas foram ter ao pombal. Em Luanda as “pombinhas” estão sempre a voar, nunca mais voltam ao mesmo pombal. Por que será?
    AH! talvez não sejam pombas, mas, sim, pombos-correio.
    Parece que estou para aqui a discorrer sobre o sexo dos anjos!… Saíste do pombal e eu fico para aqui a esvoaçar.
    Beijos, muitos.

Deixe uma resposta

Nota: Os comentários apenas serão publicados após aprovação. Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados de imediato.

« - »