Luzes de Luanda
Afonso Loureiro
Luanda, essa terra de contrastes, até de noite surpreende.
É um pouco estranho ver crianças descalças a usar os esgotos que correm nas ruas como rios para lançar os seus barquinhos feitos com garrafas de plástico, lado a lado com jipes de várias dezenas de milhar de dólares.
À noite, as crianças desaparecem e os jipes, cheios de cromados e luzes coloridas deslocam-se para o parque de diversões. Onde poucas coisas funcionam com normalidade e tudo é caro, há um Luna-park cheio de luzes a trabalhar. Luanda tem cada contraste…
Outro contraste interessante é que, paredes-meias com o local de diversão nocturna, está um templo evangélico. Religião-espectáculo ao lado do espectáculo da fé na integridade estrutural da roda gigante.
A escuridão de muitas ruas da capital é exactamento o oposto do que se passa nos vários templos do Edir Macedo, com luzes fortes e salões brilhantes. Milagre da fé! Ou dos geradores, porque é preciso contar com as falhas…
A sumptuosidade do templo contrasta com a pobreza dos fiéis.
Interessante a postura do senhor Edir Macedo um templo megalómano junto de um povo tão pobre… e que tal gastar um pouquinho do dinheiro que extorque aos fieis em prol do desenvolvimento do país.
Parque de diversões… será uma das necessidades básicas.
Em terra de cegos quem tem um olho é rei. Em tempos de crise há sempre quem enriqueça, e não será propriamente um enriquecimento em lisura, honestidade e valores morais.
O barulho das luzes provoca comportamentos estranhos!
Haja espiritos iluminados!
Edir Macedo parece ter buscado inspiração com o grande filósofo e carnavalesco Joãozinho Trinta (hoje aposentado e preso a uma cadeira de rodas, mas nem por isso menos brilhante). Joãozinho foi muitas vezes campeão do carnaval carioca, com desfiles inesquecíveis das escolas de samba Salgueiro e Beija Flor, e certa vez explicou bem esse fenômeno: “O povo gosta de luxo. Quem gosta de pobreza é intelectual”.