Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

10 2008

Jantes cromadas

Luanda, terra dos buracos e da lama, é também a terra dos todo-o-terreno. É compreensível. Um todo-o-terreno comporta-se melhor nos buracos. Não é à toa que o carro preferido dos luandenses seja o Toyota Rav 4. É aqui que acaba o bom-senso. É que esta é também a terra das jantes especiais, de preferência cromadas, daquelas que se deformam e partem quando entram num buraco mais fundo.

Luanda, terra em que se circula sempre em primeira velocidade ou não se circula de todo, é também a terra dos motores V6 a gasolina, com muitos litros de cilindrada. Já que não se vai a lado nenhum, ao menos que se vá com estilo. É também a terra dos pneus de baixo perfil, concebidos para andar depressa ou, no caso de Luanda, para melhor realçar a jante cromada que se acabou de amolgar no buraco.


A cinco quilómetros por hora…

Aliás, carro de angolano que não tenha cromados, nem sequer pode ser considerado carro. Será talvez uma carroça, com um burro lá dentro, na melhor das hipóteses. O carro de sonho do luandense tem jantes cromadas, espelhos cromados, grelhas cromadas nos faróis, frisos cromados, vidros fumados com autocolantes cromados e aplicações cromadas no interior. É o fenómeno bling-bling, importado dos videoclips da MTV. Se os candongueiros não tivessem de andar de azul e branco, aposto que já havia uma frota de iáces pretas e cromadas com jantes de raios de 18″ e pneus mais largos.

Não é por nada, mas continuo a sentir-me arrepiado quando vejo um Range Rover com pneus de baixo perfil e jantes cromadas de 24″. Serve para quê? Contornar delicadamente todas as irregularidades da estrada? No entanto, por estes lados, a qualidade de um carro é proporcional ao tamanho das jantes, cromadas, claro.


Contra-senso

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “Jantes cromadas”

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  1. «Já que não se vai a lado nenhum, ao menos que se vá com estilo. É também a terra dos pneus de baixo perfil, concebidos para andar depressa ou, no caso de Luanda, para melhor realçar a jante cromada que se acabou de amolgar no buraco.»:D:D:D:D:D

    Se o Vitara 2.0 V6 gasta 20 a 24 litros aos 100 em Luanda, quanto gastará um jipe “amaricano” com um 5.0 V8?

    É o que dá ter a gasolina a metade do preço da água 🙁

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