Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

10 2008

A espera…

Estou prestes a embarcar noutra viagem intercontinental. Desta feita vou de férias a Portugal. Vou ver o que mudou nestes últimos meses.

Preparo-me para enfrentar mais sete horas de voo mal dormido. Mas estas sete horas são a parte rápida da viagem. A espera até ao embarque é bem pior. O check-in começou às 16h30. Cheguei ao aeroporto às 17h15. Sentei-me na sala de espera da zona reservada um pouco antes das 18h. Tudo correu bem. Ninguém me tentou extorquir dinheiro nem agilizar processos de forma muito evidente. A única dificuldade deste processo, até agora, teve-a o motorista que me trouxe. Parou para me deixar e, ainda não tinha fechado a bagageira, já tinha um polícia a pedir-lhe os documentos…

Fui espreitar a varanda com vista para a placa. De lá podemos ver, ouvir e cheirar os aviões que ligam Luanda ao resto do mundo. Ou, como os angolanos preferem, ligam o resto do mundo a Luanda.

O 747 da South African aterra e fica estacionado mesmo em frente à varanda. Caramba, que bicho grande.

No controlo de passaportes, um dos vistos faz nascer um sorriso com a promessa de multas, coimas e gasosas. Na página seguinte, a expressão fica mais séria e o sorriso apaga-se. Acabou-se a esperança de sacar algum… «Tudo em ordem. Boa viagem.»

Raio X. Tudo em ordem.

Antes das salas de espera há um desvio obrigatório para a declaração de valores em Kwanzas, Dólares e Euros. Kwanzas não trouxe. Dólares e Euros, poucos. Mais um sorriso que se desvanace. «Boa viagem.»

Subo as escadas. A zona franca tem as lojas quase todas fechadas. São excepções a cafetaria e a loja de diamantes. Os diamantes devem ser a preço de, a bem dizer, diamantes. Na cafetaria a bitola deve ser a mesma.

Na sala de espera mais antiga, os funcionários da limpeza estão sentados a ver uma telenovela portuguesa. Conversam entre si acerca do enredo e da vida. Um pouco ao contrário do que acontecia em Ganda, onde se bebia a história em silêncio. Não ficam sentados muito tempo. As cadeiras novas são desconfortáveis e fazem as pessoas escorregar. É menos cansativo ficar de pé.

No meio da sala há um ponto de internet gratuito. Uma tomada eléctrica, outra telefónica e algumas instruções de configuração. Por perto não nem uma mesa onde apoiar o computador, nem uma mesa onde nos possamos sentar. Interessante…

Apesar dos letreiros proibindo fumar, alguém tentou apagar um cigarro nas aparas de madeira que decoram os vasos. Agora vão ardendo lentamente, enchendo a sala de fumo.

A sala de espera mais moderna tem aquele aspecto asséptico comum aos edifícios modernos, com linhas muito estilizadas. Cadeiras de metal desconfortáveis, iguais às da sala antiga. Chão escorregadio e frio. Muitas luzes fluorescentes emprestam um ar estéril a um espaço já de si desumanizado.

Os mosquitos fogem do fumo e procuram vítimas na sala nova. Porque estou eu aqui? A bateria do computador está em fim de vida e ao lado da cadeira há uma tomada que posso usar sem dar muito nas vistas. Não é que seja proibido, mas já se saber que se for para implicar, passa a ser ofensa grave, exploração dos recursos naturais angolanos e tudo o mais.

Desta vez tenho um lugar à janela. Julgo que do lado Oeste. Não vou ter o prazer de ver nascer o Sol mas também não vou ser acordado por ele. Ainda que às escuras, vou poder ver África, coisa que não me foi permitido na viagem para Sul.

Seis e meia. Daqui a pouco mais de três horas já devo estar no avião. sejamos pacientes.

As lojas abriram um pouco antes das oito. Os preços eram de fugir, claro. Os Kwanzas ficam ao fundo das escadas, os Dólares ficam nas lojas de arte.

Perto das nove, faz-se a chamada para a sala de embarque. Novo controlo de passaportes, boletins de vacinas e talões de embarque.

Bem dentro dos horários previstos, embarcámos. Depois recomeçou a espera. A greve do pessoal do aeroporto atrasou o carregamento das bagagens. Descolamos com cinquenta e cinco minutos de atraso…

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “A espera…”

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  1. Afonso, boa viagem!
    Aproveite. Depois quero ler suas impressões quando retornar a Angola.
    Um abraço.

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