Meias palavras
Afonso Loureiro
Estar num país estrangeiro e não aproveitar para conhecer as gentes é, no mínimo, estúpido. Resolvi usar esta minha estadia em Angola para aprender mais sobre as tradições e crenças do seu povo.
Tenho feito muitas perguntas. De tal maneira que sou visto como um bicho raro, que mostra interesse na gastronomia e nas tradições da terra, como os alembamentos e os óbitos festivos.
No meio de tanta conversa, apercebi-me que os angolanos deixam muitas palavras para serem subentendidas. Fazem-no em especial quando há uma vertente negativa no seu discurso. É uma espécie de eufemismo em que metade cada um entende como quer.
Quando se pergunta se a obra já está acabada e a resposta é negativa, o que ouvimos é um tímido «Ainda…». Subentendemos o «…não».
Até mesmo nos alembamentos, há coisas que ficam por dizer. O que a família do noivo tem de entregar à noiva varia em função do rapaz ter cometido ou não. Cometido o quê? Pecado, pois então! Se a rapariga aparecer concebida e só depois o namorado aparecer à família para fazer o alembamento, terá de ser multado. Afinal de contas, cometeu sem consentimento da família da noiva…
Entretanto, já aprendi mais umas coisas acerca dos alembamentos, mas se me perguntarem se já sei tudo, a resposta terá de ser um singelo «Ainda…»
tenho de lhe confessar que me viciei neste seu espaço (ou vosso).
curiosas as crenças e hábitos dos outros. ainda mais vivenciados.
saudações
http://coresemtonsdecinza.blogspot.com
E qual é a multa?
Certamente será uma de tantas coisas que ainda irás descobrir… do lado de cá tem sido muito bom ler todas as descobertas que fazes diariamente.
A multa é sempre dos 500 dólares para cima. Mas o mais engraçado são os pedidos que as famílias da noiva, paterna e materna, fazem. Além dos típicos panos para as mães e dos fatos para o pai, aparecem sempre coisas como sandálias, sal, fósforos, peixe seco e invariavelmente umas coisas mais estranhas como uma caçadeira (como li num semanário de cá).