Horizontes largos
Afonso Loureiro
Será que a paisagem molda o espírito das gentes? Nunca tinha pensado seriamente no assunto, até ao dia em dei por mim no meio de África, admirando um horizonte infinito, com pássaros a fazer a banda sonora.
Portugal é um país pequeno. Muito variado, é certo; mas acima de tudo, é pequeno. No horizonte está sempre à espreita uma povoação qualquer, uma marca de civilização.
Em África, até bem para lá do horizonte só há mais África. Muito, muito longe, encontramos uma povoação. Se tivermos sorte, haverá uma estrada que nos leva de volta à civilização de que dependemos para sobreviver.
Começo agora a compreender o espírito empreendedor dos retornados, que tomavam cada obstáculo como mais uma oportunidade. Lá em África (no tempo deles) e cá em África (no meu tempo), as coisas que damos por certas em Portugal, não existem. Se se quer alguma coisa é preciso fazê-la, ser auto-suficiente, lutar.
É que, lá no meio de África, temos a sensação de que não podemos depender de mais ninguém para além de nós mesmos. Todas aquelas pequenas coisas que achamos significarem civilização estão ausentes. Água, electricidade, comida, tudo são desafios.
Em Portugal, também devido ao seu tamanho, as pessoas são mais reservadas. Há sempre alguém por perto, observando o que fazemos ou deixamos de fazer. Na imensidão de África, as gentes são poucas e o espaço é mais que muito para dar largas até às emoções.
No cimo de um monte, tendo o Kwanza a inspirar-me lá em baixo, enchi os pulmões com cantos de pássaros e os olhos com os verdes que não acabam. Pensei na magnífica sensação de liberdade que me invadia e senti o espírito a crescer. Maravilha!
A fotografia não lhe faz jus
Quem aqui cresceu tem de ser diferente!
Imaginei o que seria poder percorrer as matas que me rodeavam. Depois lembrei-me dos paus vermelhos e brancos que tinha visto umas horas atrás. Voltei a contemplar o que me rodeava e tentei imaginar quantas minas ainda se escondiam por ali… a sensação de liberdade foi-se. Ficou apenas um amargo de boca. Olhava o fruto proibido…
Hoje com 50 anos, olho para a infância e juventude que vivi correndo por essas matas sem “paus vermelhos e brancos” e só as posso definir como “felicidade em estado puro”.
assino por baixo seja a cronica que o comentario, eu tambem foi muito feliz por terras de NGOLA quando uma criança tem amor dos pais . os espaços de africa , os cheiros, e os africanos por companheiros ,so pode ser o paraiso , e eu vio sentio , e claro nunca mais se esque-se
a todos um bom natal
África,continente votado ao ostracismo, levaram à força os seus filhos para outras longínquas paragens, sugaram as suas riquezas, traçaram países artificiais com régua e lápis, deixaram doenças, fome, mas o sentir dos africanos, o cheiro de África, a imensidão dos seus horizontes, até hoje não conseguiram destruir.
olá olá….
apanhei este blogue porque me deram o endereço….sou natural da bela cidade do DONDO, Angola…..
vivi mesmo na rua perpendicular à rua da Câmara Municipal por cima da loja do ‘Jaco’ e que tinha uma padaria……
tem fotos dessa rua, que foi em tempos minha e dos meus amigos de rua, quais pequens capitães de areia…..já me banhei nessas águas do Kuanza……
ai que bom voltar atrás no tempo
um abraço e feliz natal
Rui Pedro Matos