Pontos de referência
Afonso Loureiro
Por deformação profissional ou pessoal, comecei a tratar Luanda como se já a conhecesse há mais tempo, procurando vivê-la como quem nela cresceu. Vou decorando os pontos de referência, as ligações de uns bairros para os outros e os caminhos mais curtos (ou rápidos) daqui para ali.
Ponto de referência: Liceu Salvador Correia
Mas já me apercebi que outros estrangeiros, que cá moram há mais tempo que eu, não conhecem muito mais que o nome da rua onde vivem e, talvez, o percurso até ao local de trabalho. A relativa confusão que existe em torno do nome das ruas da cidade faz com que a maioria dos expatriados desista sequer de tentar fazer sentido da coisa.
Ponto de referência: Igreja de Fátima
Chega-se aos sítios de três formas diferente: por tentativa e erro, experimentando ruas e avenidas até à exaustão; seguindo indicações baseadas em pontos de referência populares ou então alguém, já conhecedor das manhas da cidade, serve de guia e nos mostra o trajecto que devemos decorar.
Ponto de referência: Edifício da Sonangol
Cada um começa a criar mapas mentais da cidade, com as distorções próprias de uma terra onde o comprimento de uma rua não se mede em metros, mas sim em horas. É que há dias em que uma rua de aspecto inocente pode demorar mais a percorrer que a estrada que liga duas cidades do interior.
Ponto de referência: Letreiro da Cuca
Dizem que a cidade não é segura e que o medo que se tem de se ser assaltado se sobrepõe à vontade de conhecer as ruas, quer a pé, quer de janela aberta. Mas, se não o fizermos, a experiência humana perde-se, o que é triste.
Ponto de referência: Prédio da Lagoa
É a missão de cada um ir preenchendo os espaços em branco do seu mapa e ir perdendo o medo da cidade, apagando os Hic Sunt Leones com que nos atemorizam.
Faz muito bem em conhecer o máximo que puder so assim no meu ver se pode dizer que vivemos em determinado sitio. Diga-me uma coisa, ao longo do tempo que aí está, já sentiu o medo, a insegurança de perto?
Houve um ou outro local onde não me senti muito à vontade. O facto de sobressair da multidão não ajuda.
Foi quase sempre nas zonas de maior confusão, onde até os próprios angolanos dizem que os assaltos são frequentes.
Dizem-me que a cidade está muito mais segura que há dois anos e acredito nisso. As novas lojas que abrem já dispensam as grades nas janelas e tudo.
Olá Afonso,
Agora foi giro rever essas imagens, desde Agosto passado. Quando estive em Luanda, durante algum tempo fiquei muito baralhado com as ruas. Na verdade, continuo… rsrsrs
Mas aos poucos uma pessoa vai-se habituando.
Quanto a assaltos, se uma pessoa começa a pensar muito nisso, nunca sai de casa. Andei muitas vezes sozinho na rua de um lado para o outro e nunca tive problemas. Na verdade, andava despojado de tudo e o mais mal vestido possível… Quando andava de fato, deslocava-me de carro… e com mais pessoas.
Estive a morar no Kinaxixe, umas ruas por detrás dessa torre esqueleto (Prédio da Lagoa)…
Já tenho saudades de Angola… do Veneza, do Al-dar, do Padrinho, do Cais de Quatro e muitos outros…
Abraço
Colibri
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Os meus últimos sentires…
Eis-me aqui: Testemunho dramático…
Colibrir as Emoções: A filha da onça…
Traços de Angola: Parte 12 – Fotos do Lobito (Parte II)…
Corais dos Recifes: Camarões ornamentais…
Obrigado, por ter esclarecido.
Cumprimentos