Até que enfim chove!
Afonso Loureiro
Oficialmente, o Verão Austral já chegou há muito a terras angolanas. Por todo o país começou a chover com alguma regularidade. Mas em Luanda, que é excepção em tudo, ainda não soube o que é a chuva. Ainda não foi desta que o pó assentou e se transformou em lama.
É certo que há dias em que as ruas acordam molhadas, mas chuva mesmo, ainda não se viu.
Numa noite, em que a visão da montanha de roupa suja venceu a minha preguiça de a lavar, esperava que a máquina parasse quando ouvi um ruído diferente.
A princípio não consegui distinguir o que era, mas depois fui à janela e gotas grossas caíam na rua. Por breves instantes eram iluminadas pelos candeeiros. Depois esborrachavam-se no chão com um baque surdo.
Chegou a chuva
A conversa dos seguranças foi abafada pela espécie de aplauso líquido que começou a lavar o pó da cidade. Algumas pessoas estugavam o passo e procuravam uma varanda ou toldo que as abrigasse e os carros circulavam mais devagar, com as escovas a secar os pára-brisas.
Os sujeitos que costumam passar de mota de escape livre a alta velocidade, disparando alarmes e acordando as gentes, resolveram não arriscar o banho ou o tombo nas estradas escorregadias. Que sossego!
Um quarto de hora depois, a chuva parou. As ruas começaram a secar e o pó voltou a surgir dos seus esconderijos…
Pois é amigo Afonso por cá, chuva é coisa que não falta.
Um grande abraço
Saudades muitas de mergulhos na Restinga ou junto à Barracuda na ilha, em dias de chuva! A trovoada ribombava e cortava os céus de Luanda…e eu puto kandengue mergulhava nas águas do Mussulo! Já vão quarenta anos! Sinto o sal e a frescura da espuma…
Caro Afonso,
já agora, de volta ao meu Brasil de origem, continuo a gostar de ler tuas histórias nessa terra que há de me ficar no coração.
Boas chuvas em Angola! Que pelo menos tragam um frescor temporário…
Um grande abraço da ex-Branquela d’Angola
Caro Afonso Loureiro,
Se analisarmos o clima com algum pormenor, verificaremos que Luanda e, duma maneira geral, a parte norte de Angola, pelo menos, não tem duas estações, como habitualmente se diz, mas quatro. A saber:
– Grande Cacimbo, que normalmente vai de Junho até Setembro;
– Pequenas Chuvas, em Outubro e Novembro;
– Pequeno Cacimbo, em Dezembro e Janeiro;
– Grandes Chuvas, desde Fevereiro até Maio.
De resto, se em Luanda não chove mais, não é por falta de humidade, que ela sente-se, e de que maneira! É por falta de relevo e de altitude que a faça condensar-se. Mesmo assim, mais tarde ou mais cedo a chuva acaba por cair.
Está-se sempre a aprender!
Saudades do cheiro da terra molhada!