Choperíte legendário
Afonso Loureiro
Adoro sotaques diferentes, marcas de individualidade, pequenas coisas que denunciam a origem das pessoas.
Gosto de ouvir gente a falar línguas que não as maternas e tentar adivinhar de onde vêem só pelo sotaque ou construção das frases. Quando leio traduções, tento sempre perceber qual seria o texto original e não são raras as vezes que encontro um armadilha que o tradutor não soube evitar. No entanto, reconheço-lhe todo o valor. Nunca há traduções perfeitas e a dele é melhor que a minha, que é inexistente.
Um café lendário, sem dúvida
Quando cheguei a Angola, a maior diferença não foi o sotaque diferente nas bocas das pessoas, com as vogais abertas ou fechadas em ordens inesperadas. Foram mesmo as expressões idiomáticas e as meias-palavras que achei mais características.
Numa terra onde os níveis de analfabetismo só agora começam a baixar, a escrita procura imitar o mais fielmente possível a oralidade, numa versão ad-hoc do famoso acordo ortográfico. O mesmo se passa com a leitura das palavras, que não se prendem às regras habituais. Lêem-se as letras umas atrás das outras e quem não perceber o que é, que pergunte.
Palavras escritas em Português não levantam muitas dificuldades, mas noutras línguas, o caso já é diferente.
Na rádio ouvi publicidade a um determinado supermercado conhecido. Da primeira vez nem sequer percebi a qual se referiam. Onde raio será o choperíte?
Agora, que me habituei à nova pronúncia do Inglês, já sei que se referiam a uma cadeia de lojas Sul-Africana Shoprite.
E o Pick & Pay? Spar? Game? Hyperama? Ainda não apareceram por aí? -:)
Ainda não há sinais desses. De qualquer das formas, como é que os angolanos pronunciariam os nomes?