Até para nascer é preciso sorte
Afonso Loureiro
No Huambo, à sombra de um tapume velho, encontrei um cachorrinho que ainda nem abria os olhos. Estava enroscado em si próprio, esperando a morte. Ainda respirava, mas não o faria por muito tempo.
Esperando
Nasceu e morreu no espaço de poucos dias. Não sei se foi afortunado ou não. A vida é um dom maravilhoso, mas ser cão em Angola não é coisa que se deseje a ninguém.
Que fazer? Tomar conta do bicho pelos dois dias e seguintes e depois deixá-lo à sua sorte outra vez?
Limitei-me a registar o momento. Ficou mais marcado em mim que na fotografia, mas achei importante bater a chapa. Não são só as alegrias que devemos fotografar. Como dizia uma personagem de um filme, as vidas que contamos nos albuns fotográficos são vidas de perpétua alegria, cheias de sorrisos e gente feliz, mas bem sabemos que nem sempre é assim.
Ai…eu não sei se tinha resistido a tomar conta dele. É preciso fechar os olhos (do coração)…
Imagino a impotência que se sente perante uma situação destas.
Este não nasceu com o cu virado para a lua… é pena.
Foi difícil deixar o bicho à sua sorte, mas concluí que nada poderia fazer por ele.
Isso na foto não é um cachorro,é um gato! *seria apenas uma foto comparativa?*
Pobrezinho… 🙁
Por acaso era um cão, mas também me pareceu um gato à primeira vista.