A Rusga
Afonso Loureiro
A noite estava quente e o sono era constantemente interrompido para voltar a almofada ao contrário, na esperança que o outro lado estivesse mais fresco. Nunca estava. A rede mosquiteira enrolava-se nos pés e nas mãos que fugiam ao calor. O lençol enrolava-se às pernas e aos braços húmidos e peganhentos. Lá fora, a ocasional mota barulhenta fazia disparar os alarmes histéricos dos carros. Nada de novo, portanto. Uma noite de Verão em Luanda igual a tantas outras.
Mas, eis que há novidades! Às dez para as cinco da matina, há um anormal (na altura chamei-lhe e à sua digna mãezinha uma série de outros nomes) que se lembra de desatar a buzinar como se não ouvesse amanhã ou gente a dormir.
Duas, três, quatro, dezasseis vezes. Será que alguém trancou um carro? Aqui na rua não é costume. Começam a ouvir-se vozes na rua e nas escadas. Pancadas na porta e nas grades de alguém. «Ó vizinho, ó vizinho!». O vizinho devia estar surdo, porque nunca mais aparecia para tirar o carro.
Levantei-me e fui à janela, de mau humor, cheio de vontade de perguntar ao buzinador de repetição se achava bonito acordar as pessoas àquela hora. Na rua estava um Land Cruiser branco do «Serviço de Migração e Estrangeiros – Fiscalização». Perdi a vontade de reclamar. O condutor aplicava-se a fundo no botão da buzina, espreitando de vez em quando pela janela.
Filho de uma grandessíssima santa
«Bonito, uma rusga de madrugada…», pensei.
As vozes e os barulhos acalmaram, mas a buzina continuava em grande. Até que parou. O condutor saíu do carro e arrastou-se até à porta do salão de jogos. Achei estranho. Talvez fosse do sono. Passado um bocadinho, regressou, segurando uma lata de cerveja e encostando-se aos carros estacionados. Vem para uma rusga podre de bêbado. Mas que bela imagem dá do país.
Buzina mais meia-dúzia de vezes e depois arranca fazendo chiar os pneus. Não estava mais ninguém no carro. Será que perdeu os colegas? Será que só me queria acordar?
Afonso
Ao longo das suas crónicas fiquei sua fã,agradeço as cores os cheiros e o calor…as emoções!
Inicialmente procurava apenas informação acerca de Luanda, cidade que se tornará minha, apartir de Maio próximo,depois do seu blog,acredito que em Angola serei feliz.
Os amigos e familia acham que estou “doida” por ir para Africa, sem conhecer ninguém mas acho que senti o “apelo de Africa”…fará sentido ou estarei pronta para uma longa estadia num hospital psiquiatrico?!
Angola das suas histórias devolveu-me ao que é realmente importante…a esperança e o acreditar num amanhã melhor.Embora para alguns, esta minha visão seja demasiado puritana ou lirica, sei que devemos seguir o coração,nada tem a ver com cifrões!Apenas com a vontade de aprender,ensinar e ajudar a criar algo,podemos fazer a diferença!
Aos que nos vêem como sanguesugas, apenas posso dizer, que sei que Portugal não foi boa “madrasta” para Angola (ou qualquer outra ex-colónia) mas asseguro que também nunca foi boa pátria “mãe”…não deixamos de ser irmãos de criação por isso!
Afonso Obrigado pela ajuda na minha tomada de decisão.
Encontramo-nos por Luanda para um café ou gasosa…
Abraço
Abraço
Marina Mill