O luxo das calças a cair
Afonso Loureiro
As companhias aéreas bem nos tentam convencer que voar é uma experiência reservada às pessoas de bom gosto, que apreciam os pequenos detalhes e o conforto. Fazem-nos crer que nos proporcionam uma amostra do que é a vida da gente rica, por uma fracção do preço.
Não importa que depois se tenha de viajar com os joelhos na boca e que não se possa inclinar a cadeira o suficiente para ficar confortável. Não importa que nos ofereçam uma escotilha minúscula para espreitar lá para fora. Não importa que, geralmente, não esteja alinhada com a cadeira e nos faça torcer o pescoço para conseguir vislumbrar o que nos parece ser o céu, nem que haja companhias que queiram cobrar as idas à casa de banho.
Não me conseguem convencer que uma experiência tão exclusiva tem de começar por ver pessoas com as calças a cair porque tiveram de tirar o cinto e juntá-lo ao tubo de pasta de dentes dentro de um saco de plástico enquanto esperam que lhes radiografem os pertences.
Sinceramente, não me lembro de me ter de descalçar da última vez que andei de combóio…
Combóio Viana-Luanda
Pronto, é hoje!
Tenho andado por aqui muito caladita a sorver aerogramas deliciosos e nem só por acaso cá vim dar, mas também. Ainda não fui, mas vou para Luanda em breve, tão breve quanto o rol de impasses e burocracias nos exigem que já se parte cansada lol. Faz tempo que pulava entre um e outro blog angolano para me ir cultivando sobre uma actualidade de uma terra onde vivi infância, a que voltei já mulher e a que espero regressar em contagem decrescente sem veleidades bacocas de saudosismos,o facto é que com todas as incongruências, incompletudes, contrastes e dificuldades inerentes a um país em reconstrução, essa terra tem algo que nos marca, nos agarra e de forma estranha nos faz gostar no meio de tanta coisa dura. Um dia outras gerações suas vão gostar de passear por tanto aerograma da sua história neste pedaço de tempo de vida sua. Que esta jornada lhe traga frutos tão suculentos como os que tenho saudades de saborear aí. Há coisas boas, pois há? 🙂
Este seu partilhar de experiências cativou-me e está eleito como o meu preferido de entre outros blogs angolanos por onde vou espreitando sentires. Não é costume eu comentar em blogs. Há alguns anos que me deixei disso, mas acabou por ser irresistível não lhe deixar aqui um obrigada pela forma brilhante como escreve cada pedacinho de dia que aqui deixa tão real, tão bem escrito e deliciosamente ilustrado. Sinto que esta leitura tem sido uma espécie de exercício de preparação para quem está no banco a preparar-se para entrar em jogo.
Essa das calças caídas é capaz de ser para pôr o pessoal na moda tipo adolescentes. A gente tem que se rir com as coisas, não é? Senão é que se desatina de vez!
Perdoe-me este comentário longo. Foi pelos muitos que não deixei e merecia. Boa sorte para o resto da temporada que lhe falta.
Entrei para fazer um comentário e li o depoimento da Maré. Faço meus os elogios aos aerogramas e ao blog.
É verdade essa história de companhias pretenderem cobrar idas à casa de banho? Jura?
O Aerograma é realmente um blog que é uma delícia.
Como angolana, só espero que o dono do blog fique por cá muitos e muitos anos (traga a sua cara metade também…rs..)
E já agora, se o dono do blog me permite, uma palavrinha à Maré.
Maré: que texto tão bonito.
Venha logo! Angola, apesar de todos os pesares, está felizmente a reencontrar-se. E espera por si, de certeza absoluta, de braços e coração abertos.
Abraço aos dois
Tou indo Fátima, só falta o quase que é o mais difícil eheheh. Obrigada.
A companhia RyanAir queria mesmo cobrar as idas à casa de banho…