Nova Lisboa, resquícios
Afonso Loureiro
O Huambo, mesmo depois de trinta anos de guerra civil e abandono, ou talvez por isso mesmo, não perdeu a memória da antiga cidade como aconteceu em Luanda, que se viu enterrada em refugiados e foi cubatizada.
Alguns aspectos de Nova Lisboa ainda se deixam descobrir aqui e ali, mesmo para quem anda desatento.
Batuques
Os bairros de vivendas que cercam a cidade ainda se encontram em bom estado. Os quintais têm árvores e as ruas estão transitáveis. Uma pintura nas fachadas e qualquer um acreditaria ter recuado no tempo.
Arquitectura de época
Os projectos de reconstrução da cidade não têm passado pela demolição cega de tudo quanto é velho ou que recorde o passado colonial. Os buracos das balas são fechados, as paredes pintadas e as janelas repostas. A cidade renasce com a reabilitação da sua memória. Os símbolos portugueses são substituídos pelos angolanos, numa mistura curiosa de traças e civilizações. O resultado final é excelente.
Novas instalações de um departamento governamental
Dando umas voltinhas pela cidade, somos capazes de identificar alguns pormenores que ainda preenchem a memória de quem cá viveu antes de nós.
Armazéns da Pepsi-cola
Aqui e ali, descobrem-se pontos de referência ainda hoje usados. Letreiros anunciando negócios desaparecidos ou edifícios característicos são bons exemplos.
Hotel Almirante
Muitas marcas do que terá sido a vida da cidade no princípio da década de 1970 ainda existem. As lojas de automóveis, os cafés amplos, os jardins cuidados e as avenidas largas.
Negócio desaparecido
Pela variedade de lojas e serviços ainda hoje identificáveis, a cidade não deixava nada a desejar em relação a Luanda ou até mesmo a Lisboa. Cá havia tudo.
Negócio desaparecido
A arquitectura, tal como as memórias de quem deixou Nova Lisboa, ficou presa no tempo. Quem aqui regressar terá um choque. As coisas estão como as recordava. Talvez mais sujas e com sinais de desgaste, mas as memórias vão encaixar na perfeição nos espaços.
Década de Setenta
O Huambo não cresceu desmesuradamente como Luanda. Não ficou estrangulado por musseques a perder de vista. Para lá das estradas asfaltadas pouco mais há. Mais uma vez, se calhar foi a guerra que preservou a memória da cidade, à custa de alguns edifícios.
Terra vermelha, céu de postal ilustrado
Uma das mais importantes referências do Huambo são os Caminhos-de-Ferro de Benguela. Na estação há dezenas de locomotivas que deixaram de circular depois de se ter minado as linhas.
Há também uma complexa rede de infra-estruturas deixadas pelos CFB, como o hospital, os complexos desportivos, as oficinas e os bairros dos trabalhadores.
Bairro dos CFB
Ao percorrer as ruas da cidade, não conseguimos evitar que a imaginação nos crie memórias que não temos. A sensação de se ter entrado numa máquina do tempo ou num estúdio de cinema é muito estranha.
O que realmente me agrada e prende a este blog é, para além da grande riqueza da tua escrita (quem me dera conseguir exprimir-me assim!), a certeza de todos os dias aprender um pouco mais sobre a minha própria terra, visitando e descobrindo através de ti lugares que, infelizmente, ainda não tive a oportunidade de conhecer. Em breve partirei à aventura, desbravando tudo o que o país tiver para oferecer aos meus sentidos 🙂 E lembrar-me-ei de pequenos detalhes que fui apreendendo por aqui. Obrigada! E força 🙂
Ao autor do blog,um bem haja pelos artigos sobre o huambo.Gostei do olhar critico no que esta terra tem de bom e menos bom tambem!Keep up the good work!:)
Um abraço
De um natural do Huambo!
Gostei de ver a Torre da Capela da Casa dos Rapazes, onde aprendi a ser Homen, depois de ter sido menino.
Vivi 8 anos nessa casa 1961-1969. Não gostei de ver tanto mato á volta. Será que estão a recuperar essa grande instituição?
Sempre gostei muito de Nova Lisboa,era uma grande cidade,como viajante ia lá muitas vezes,era onde eu comprava as rozeiras para transplantar no meu jardim.Faço votos que progrida o mais rápido possivel.Quanto a saudades sâo imensas,mas os anos nâo perdoam.Costa.
Senhor afonso Loureiro os meus cumprimentos.Espero que nunca se canse de falar e de escrever em ralaçâo a Nova Lisboa,e nâo sò.Tenho quase 80 anos mas caso tivesse uns quantos menos de certesa que já lá estaria.Mas uma coisa é certa o meu coraçâo está lá.Quanto ao progresso parece-me que está a andar e ainda bem.Aceite um abraço.Jacinto Costa.
Distinto senhor Loureiro
Foi com grande alegria que li o que escreveu sobre o Huambo e
apreciei as fotografias publicadas.
Matei saudades. Muito obrigado.
Saudacoes cordiais
Sacusanda