Produtos de referência
Afonso Loureiro
De há uns anos a esta parte, uma organização internacional qualquer dedica-se a estudar o custo de vida nos vários países. Como primeira aproximação, fazem a conversão das moedas nacionais para uma moeda de referência e comparam salários, custo de bens essenciais e mais algumas coisas, mas depressa concluíram que as políticas monetárias de cada país desequilibravam este raciocínio. Há moedas mantidas artificialmente mais caras ou baratas que o devido, para fomentar exportações, por exemplo. Outro factor que perturbava estes cálculos era a grande variabilidade dos produtos tidos como essenciais nos vários países.
Foi necessário encontrar um produto comum a todos os países em estudo que, pelas suas características, fosse tido como idêntico em todo o lado e de consumo quase universal.
A resposta estava numa das marcas mais famosas no planeta, a Mac Donald’s. Os principais produtos vendidos são iguais em todo o lado, têm custos de produção semelhantes e, acima de tudo, são acessíveis a todas as camadas da população. Seria de esperar que, depois de convertidos, os preços fossem sensivelmente os mesmos por todo o lado.
Mas não são. Descobriu-se, por exemplo, que na Malásia a moeda tem um valor desajustado. Um estrangeiro ficará com a impressão que lá as coisas são muito baratas. A política cambial do banco central malaio assim o determina.
Tentei aplicar o mesmo princípio a Angola, para descobrir até que ponto o custo de vida é assim tão diferente do de outras paragens. Mas deparei-me com um problema. Não há Mac Donald’s em Angola.
Mas haverá, certamente, um qualquer produto que eu possa comparar.
Pensei nas minhas últimas compras em Luanda. Andei a regatear pequenos molhos de cenoura enfezadas. Os preços exorbitantes quase me faziam crer estar a comprar trufas da Toscânia ou uma outra iguaria reservada aos que não sabem o que é contar tostões.
Cenouras comem-se em quase todo o mundo… O produto de referência estava encontrado. Aproveitei uma estadia em Portugal para comprar um molho de cenouras semelhante ao que regateei em Luanda. Sete pequenas cenouras. Nacionais, em ambos os casos.
Em Luanda paguei 200 Kz. Em Portugal paguei 0.16€, o equivalente a cerca de 15 Kz. Tinha ideia de que o preço de Luanda era exagerado, mas nunca julguei ser treze vezes o de Portugal. Meses a pagar fortunas pelas coisas mais básicas deixam-nos com as referências todas trocadas.
Sete pequenas cenouras
Graças à rede global, fui dar uma voltinha pelas bolsas de produtos agrícolas do mundo. No Canadá, os preços eram menos do dobro dos portugueses. Em Tóquio, recentemente galardoada com o título de capital mais cara do mundo, as mesmas cenouras, mas congeladas e entregues em casa, ficavam-se pelos 170 Kz.
Afinal, parece que se enganaram. Luanda é que é a capital mais cara do mundo!
Em dados do ano passado, Luanda tinha um honroso – not! – segundo lugar nessa classificação, sendo na altura batida apenas por Oslo. Mas o estudo não referia os rendimentos médios de um norueguês e de um angolano.
O meu dedo mindinho diz-me que quanto mais estrangeiros houver em Luanda, maior vai ser a especulação. É à grande e à angolana: meia dúzia a encher-se, e quem se lixa é o mexilhão do musseque.
A questão aqui é de quem compra. Ora vai ver esta notícia http://www.tourism-review.com/weekly-travel-news/1286-the-most-expensive-city-for-foreigners
E não engloba acomodação nem custos escolares…