O embuste
Afonso Loureiro
A História está cheia de enganos e embustes, uns pequenos, outros grandes e outros imensos, dignos de monumentos e tudo.
Um destes enganos está no centro de Lisboa, no Rossio. Na Praça D. Pedro IV, que deve o seu nome a uma das figuras mais curiosas da História de Portugal.
D. Pedro nasceu no Palácio de Queluz, a poucas centenas de metros do local onde vivi desde que nasci. Durante as invasões francesas, partiu para o Brasil com o resto da Família Real. Foi Imperador do Brasil e abdicou em nome do filho. Foi Rei de Portugal e abdicou em nome da filha, D. Maria.
Evoramonte
D. Miguel, seu irmão, começou a governar como rei absoluto, o que desencadeou uma guerra civil em Portugal, entre Absolutistas (ou Miguelistas) e Liberais. As forças de D. Pedro venceram os partidários de D. Miguel e, numa modesta casa de Evoramonte, foi assinada a Convenção onde se estabeleceram os poderes dos soberanos e se exilou o rei absolutista. D. Pedro morreu alguns dias depois de D. Maria II subir ao trono.
Mas onde está o embuste? Está na Praça do Rossio, pois claro. Mas começou do outro lado do Atlântico.
Como forma de homenagem a tão insigne figura, haverá melhor que uma estátua? Provavelmente não. O certo é que só se decidiu encomendar a dita trinta anos depois de D. Pedro ter morrido. Já ninguém se lembrava muito bem de como ele era, muito menos o escultor.
Mas como o mundo está cheio de coincidências, por essa altura o Imperador Maximiliano do México estava a ser fuzilado. O curioso é que tinha encomendado uma estátua anos antes e que seguia agora para o México. Com a súbita morte do cliente, a estátua acabou por ficar em Lisboa, a ganhar pó.
Como ambos tinham barba e um certo porte real, alguém pensou se não se poderia reciclar o pobre Maximiliano. Bem dito, bem feito. Só foi necessário cortar-lhe o braço direito, que segurava um ceptro imperial e colocar-lhe um novo braço que segura a Carta Constitucional. Antes de lavarem a estátua e a cobrirem com silicone anti-caca-de-pombo, o braço novo tinha uma cor diferente. Agora nem se nota.
O logro funcionava à distância, mas quem observasse mais de perto percebia que alguma coisa estava mal. A solução encontrada foi simples e eficaz: construíu-se um pedestal altíssimo, para que todos vissem a estátua ao longe.
D. Pedro IV ou Maximiliano I?
Da próxima vez que acharem que aquele pedestal é demasiado alto, lembrem-se que é assim para que ninguém desconfie.
Nesse caso não se pode tirar o leão do marquês de pombal e pôr uma águia?
Já aprendi mais uma! Dessa é que eu não sabia! A História está cheia de embustes mas realmente assim exposto tão de caretas pasma-se! Que dirá o Maximiliano lá do alto a avistar tanto totó a admirá-lo confundindo-o? Ele há coisas que nos baralham mesmo. O escultor foi segundo ditam Anatole Calmels que sendo francês residiu muitos anos em Portugal o que por si só já pode explicar a encomenda até porque se destacou pelas muitas obras que executou para o Palácio de S. Bento. E lá ficou o México sem o Maximiliano! Não lhes bastava esta malfadada gripe suína que se alastra por lá e já anda a gerar o pânico pela Europa!
Caro Afonso, peço desculpa pelo desmentido, mas a estátua é mesmo de D. Pedro IV. Verifique, por exemplo, em http://delisboa.blogspot.com/2005/11/d-pedro-iv-ou-maximiliano-do-mxico.html ou em http://pt.wikipedia.org/wiki/Pra%C3%A7a_de_D._Pedro_IV.
Outra coisa: D. Miguel era irmão mais novo de D. Pedro IV e não tio. Ele foi tio, portanto, de D. Maria II, filha de D.Pedro IV. Confira, por ex., em http://www.arqnet.pt/dicionario/miguel1.html ou http://pt.wikipedia.org/wiki/D._Miguel.
Estamos sempre aprender!
Não sabia que já tinham desmentido para a lenda. Mas lembro-me bem da “costura” no braço direito da estátua. Na altura pareceu-me confirmação da lenda.
Aprendi uma coisa nova!
Os parentescos já estão corrigidos. Obrigado.