A falsa calma da Barra do Kwanza
Afonso Loureiro
Uns quilómetros a sul de Luanda, a estrada cruza o rio Kwanza. Dos milhares de rios em Angola, este é o mais importante, até mesmo a nível político.
O Kwanza é o maior rio angolano, dá o nome à moeda nacional e, durante anos, as suas margens eram reduto exclusivo das forças do MPLA.
Hoje em dia, com a guerra quase esquecida, o Kwanza é o rio da ponte bonita, a tal que tem a portagem. Foi construída no princípio da década de 1970 e, felizmente, foi evitada a sua destruição, como aconteceu com quase todas as outras, no tipo de guerra em que se prefere destruir a defender, porque dá menos trabalho.
A ponte do Kwanza
A povoação de Barra do Kwanza ganhou uma fama triste no final da mesma década, a acreditar no que se conta. Mas esse é um tempo que já passou e uma questão que os angolanos têm de resolver sozinhos. Falemos da actualidade.
A estrada a sul e a norte estende-se por uma savana com muito capim e poucas árvores, numa paisagem quase árida, mesmo na época das chuvas. Junto às margens do Kwanza, temos uma verdadeira selva tropical, luxuriante e com um verde indescritível.
As águas do rio correm calmas, num rio muito largo, fluindo devagar até à foz que espreita no próximo cotovelo, mas a calma que o Kwanza mostra é só aparente. Do lado norte, quase no tabuleiro da ponte, está um velho carro blindado, que nos aponta os canos das metralhadoras às costas. Mesmo cheio de ferrugem e coberto de pó, nunca nos sentimos à vontade. Do lado sul, já no parque da Quiçama, julgamos ter deixado esse sentimento desconfortável para trás, mas estamos enganados.
Pouco barulho, não vá acordar
Do lado esquerdo da estrada, no meio da mata e do pântano que se segue, há um campo minado não assinalado. As minas foram colocadas para proteger um oleoduto que se avista de vez em quando. Não foram as minas que o protegeram. Está avariado há anos, provavelmente por falta de manutenção.
Do lado norte, mesmo junto às portagens, podemos ter a sorte de avistar avisos brancos e vermelhos, muito sumidos, pintados nos embondeiros. Também ali deve haver minas.
Que pena! As minas e os carros blindados estragam tudo o que de bonito tem essa paisagem…
É impossivel não reparar no carro blindado!