Sabedoria Colombiana
Afonso Loureiro
Angola é, de facto, um país rico. É nos pequenos pormenores que se nota.
Cheguei a esta conclusão depois de ouvir um episódio recontado pela sétima ou oitava pessoa. Sei bem que quem conta um conto, acrescenta um ponto, mas julgo que o cerne da história e a sua moral ainda lá estão.
Conta-se que uma delegação Colombiana, composta por funcionários do Governo e alguns empresários, visitou uma cidadezinha na Aústria. Nessa cidade, numa voltinha turística que deram, encontraram uma ilha de metal no meio do rio. Tinha sido construída para servir de palco para concertos no Verão. Estive nessa mesma ilha e desconfio que deve ser um local muito agradável para se ouvir música. É um pequeno anfiteatro onde se sentarão umas dezenas de pessoas confortavelmente, com espaço para uma orquestra de câmara ou uma pequena banda de música ligeira. O murmulhar das águas abafa totalmente o ruído da cidade, que até nem é muito, comparado com o de Luanda.
Voltemos aos colombianos que ficaram a apreciar a ilha. Depois de muito mirar aquela pequena sala de espectáculos, comentaram entre si «Se se dão ao luxo de construir uma coisa destas, nesta terra já está tudo feito!»
Por essa mesma ordem de ideias, Angola é uma terra ainda mais rica que a Áustria. Eles gastaram dinheiro numa pequeníssima ilha de aço, no meio de um rio que, comparado com o Kwanza, é anão. Luanda dá-se ao luxo de atulhar uma baía inteira, a la Dubai ou, como se diz agora, Dubai-style, só para criar uma nova marginal, com seis faixas para cada lado, bares e discotecas da moda, com uma grandiosidade que dignifique a capital da Nação! É que a deixada pelo colono só era digna para uma capital de província…
Os coqueiros morreram, mas a obra avança
A marginal até podia não estar em plenas condições..o calçadão um pouco estragado..mas de a fazer uma ilha artifical vai um longo passo! Sinto-me revoltada. Vão destruir um marco importante.
Angola é uma terra rica..mas não de inteligência.
A Baía de Luanda era, na verdadeira acepção do termo, o ex-libris da cidade. Conferia-lhe personalidade, dignidade e fundamentalmente beleza. Era um autêntico postal ilustrado.
Ver as palmeiras secas, doi. Terá sido por falta de água?
Assoriar a baía parece-me impensável. Mas, diz a sabedoria popular, “quem manda pode”. O pior é que o tempo dos Dom Quixotes já lá vai. Assim sendo, “os-que-podem” estão à vontade.
Lamentável.
Réquiem para os coqueiros…