Ritmos
Afonso Loureiro
Luanda têm um ritmo muito próprio. Durante o fim-de-semana é uma terra pacata, sem pressas, com bom tempo e que dá vontade de se ficar numa esplanada a praticar a arte que os lagartos tão bem dominam.
Durante a semana, transfigura-se. Desde que o Sol nasce, tudo corre e tudo mexe. Anda toda a gente com pressa de chegar a todo o lado. Não se deixa o carro do lado entrar na fila porque assim ele chega ao fundo da rua primeiro que nós. São os pregões gritados ao dobro da velocidade. É o acelerar a fundo para travar a fundo vinte metros à frente. É o virar já aqui porque assim não dou a volta lá à frente. Quero lá saber do duplo contínuo e dos que vêm na contra-mão. Corre. Acelera. Vai. Depressa. Já!
Os pregões em Luanda acompanham este ritmo e são disparados. Ao contrário do bem português “É fruuutóóóóóchicolaaaaaateeeee!” que se arrasta até ao fim do fôlego, por estas bandas o objectivo é dizê-lo o mais depressa possível.
Assim que o Sol passa abaixo do horizonte muda tudo outra vez. Aparecem os mosquitos. Desaparecem os carros. As ruas estreitas tornam-se avenidas espaçosas onde se pode passear a pé, sem pressa. Os seguranças à porta dos prédios adormecem nas cadeiras e são acordados pelos rádios da central lá pela hora do jantar.
Lá mais para a noite vem o camião do lixo, com os seus ruídos peristálticos metálicos. Um pouco mais tarde passa o gajo da mota com o escape aberto que faz disparar os alarmes mais sensíveis. Os mosquitos acompanham o ritmo e adormecem também. Eu vou fazer o mesmo.
Estou a ver que por aí também se pratica yôga ao fim de semana. A “posição do lagarto” parece estar muito difundida por terras africanas. Talvez até tenha sido inspirada numa das viagens que o Shiva tenha feito por aí… Quem sabe?…
Boa sorte para ti e tudo a correr pelo melhor! *