Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

25  05 2009

Candongueiros e autocarros

A primeira imagem que tive de Luanda foi a existirem milhares de carrinhas azuis e brancas a circular em todas as direcções. Na falta de táxis ou autocarros, o problema dos transportes públicos tinha-se resolvido por si. Alguns táxis, como lhes chamam por aqui, embora prestem serviço de autocarro, são legais. Têm licença de transporte de passageiros e motoristas com carta profissional, mas a grande maioria circula de forma ilegal, donde vem o nome mais popular de candongueiro.

É um negócio fabuloso, onde o dono da viatura apenas tem lucro. Todo o risco e despesa fica por conta da tripulação: motorista e cobrador. Ao final do dia têm de entregar uma quantia fixa, que ronda os 10’000 Kz, o depósito cheio e a carrinha lavada.

Outra coisa que salta à vista, é a decoração dos vidros traseiros. Cada carrinha tem o seu letreiro, para se distinguir das outras frotas. Se tivermos sorte, algumas alinham-se e formam frases curiosas.

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De Pasta – Do mais alto nível – Vapor da Perícia

Em certos locais estratégicos, a confusão de pregões anunciando o destino do táxi e a anarquia com que estacionam, tentando cortar a saída aos demais sem ser bloqueado por outro, gera um espectáculo engraçado. Mas só para quem vê, claro.

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Candongueiro famoso

Com a aplicação mais rigorosa no novo Código de Estrada, os candongueiros começaram a desaparecer. Alguns foram apreendidos, outros encostados a um canto, esperando dias melhores. Entretanto, começaram a circular autocarros. Poucos, muito poucos. E não chegam onde as carrinhas de nove lugares oficiais e dezasseis oficiosos chegam.

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Parlamento nocturno

Os autocarros não fazem serviço nocturno, ao contrário dos táxis, que circulam até que se consiga perfazer a quantia a entregar ao patrão, nem têm as qualidades de todo-o-terreno das iáces, indispensáveis numa cidade cheia de buracos traiçoeiros e estradas enlameadas.

Nos dias de chuva, os candongueiros serpenteiam entre as poças de lama e as armadilhas na estrada, furando pelo meio do trânsito, nas suas habituais m’baias. Os autocarros, menos ágeis, acabam por não resistir.

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Atolado

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “Candongueiros e autocarros”

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  1. Tem uma escrita espantosa. Parece que quase estamos lá. Um dia pode escrever uma interessante crónica de viagens.:)Boa sorte

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