Candongueiros e autocarros
Afonso Loureiro
A primeira imagem que tive de Luanda foi a existirem milhares de carrinhas azuis e brancas a circular em todas as direcções. Na falta de táxis ou autocarros, o problema dos transportes públicos tinha-se resolvido por si. Alguns táxis, como lhes chamam por aqui, embora prestem serviço de autocarro, são legais. Têm licença de transporte de passageiros e motoristas com carta profissional, mas a grande maioria circula de forma ilegal, donde vem o nome mais popular de candongueiro.
É um negócio fabuloso, onde o dono da viatura apenas tem lucro. Todo o risco e despesa fica por conta da tripulação: motorista e cobrador. Ao final do dia têm de entregar uma quantia fixa, que ronda os 10’000 Kz, o depósito cheio e a carrinha lavada.
Outra coisa que salta à vista, é a decoração dos vidros traseiros. Cada carrinha tem o seu letreiro, para se distinguir das outras frotas. Se tivermos sorte, algumas alinham-se e formam frases curiosas.
De Pasta – Do mais alto nível – Vapor da Perícia
Em certos locais estratégicos, a confusão de pregões anunciando o destino do táxi e a anarquia com que estacionam, tentando cortar a saída aos demais sem ser bloqueado por outro, gera um espectáculo engraçado. Mas só para quem vê, claro.
Candongueiro famoso
Com a aplicação mais rigorosa no novo Código de Estrada, os candongueiros começaram a desaparecer. Alguns foram apreendidos, outros encostados a um canto, esperando dias melhores. Entretanto, começaram a circular autocarros. Poucos, muito poucos. E não chegam onde as carrinhas de nove lugares oficiais e dezasseis oficiosos chegam.
Parlamento nocturno
Os autocarros não fazem serviço nocturno, ao contrário dos táxis, que circulam até que se consiga perfazer a quantia a entregar ao patrão, nem têm as qualidades de todo-o-terreno das iáces, indispensáveis numa cidade cheia de buracos traiçoeiros e estradas enlameadas.
Nos dias de chuva, os candongueiros serpenteiam entre as poças de lama e as armadilhas na estrada, furando pelo meio do trânsito, nas suas habituais m’baias. Os autocarros, menos ágeis, acabam por não resistir.
Atolado
Tem uma escrita espantosa. Parece que quase estamos lá. Um dia pode escrever uma interessante crónica de viagens.:)Boa sorte