Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

07 2009

Os amantes das zungueiras

Se tivesse de escolher dois fenómenos para distinguir Luanda de Lisboa, sem dúvida que os eleitos seriam os candongueiros e as zungueiras. As diferenças nas pedras e nas paredes não se comparam à diferença entre as vivências destas duas capitais que, até certa altura, partilham uma História.

Dos candongueiros muito se pode dizer. Quase sempre mal, esquecendo que a lei da selva que lhes governa a vida também lhes governa o volante. Mas animais da estrada há-os um pouco por todo o lado e, acreditando no que se diz, os portugueses devem ser os candongueiros europeus.

As zungueiras, por outro lado, são um fenómeno completamente novo para quem chega a Luanda pela primeira vez. Cedo reparamos que as mulheres são o motor económico da cidade, transportando o negócio à cabeça e os filhos às costas, enrolados nos panos coloridos que alegram a paisagem empoeirada.

Por serem peças tão importantes para a economia e, afinal de contas, exercerem uma actividade onde a fuga ao fisco é obrigatória, a polícia vai fazendo os seus controlos, cumprindo ordens ou matando a sede com uma gasosa.

As corridas às zungueiras são frequentes e começou a ser vulgar assistir à debandada de mulheres de alguidar à cabeça e rapazes carregados com óculos de Sol ou desodorizantes de automóvel ao primeiro avistamento de uma camisa esverdeada da fiscalização.

Por um lado, combate-se a economia paralela, mas não se criam alternativas para quem vende nem para quem compra. Se não zungarem qualquer coisa, é impossível sobreviver na capital sem terra para cultivar.

Como os angolanos se riem face às adversidades legais ou outras, depressa descobrem como contornar estes obstáculos. As zungueiras, como boas angolanas que são, encontraram a arma secreta. Tornam-se amantes de um polícia!

Fica muito mal um polícia dar uma corrida à namorada do colega. Depois tem de dar uma boa explicação e, se o outro for superior, não se escapa da obrigatória compensação para matar a sede.

Começou a correr o boato de que agora também são os polícias que querem andar com as zungueiras. Na verdade, descobriram um harém infinito e sem grandes motivos para recusar convites.

Com este súbito interesse da parte fiscalizadora, só posso concluir que as zungueiras feias estão descansadas da vida, porque os polícias só vão dar corridas às mais jeitosas…

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Deixe uma resposta

Nota: Os comentários apenas serão publicados após aprovação. Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados de imediato.

« - »