Candongueiros
Afonso Loureiro
Tal como prometi há uns tempos, tinha de publicar mais um artigo dedicado aos mantém Luanda a funcionar. Se as ruas e avenidas se podem comparar com artérias, os taxistas podem muito bem ser os glóbulos vermelhos do sangue da cidade.
Apesar de serem todos azuis e brancos, cada frota procura ser distinta das restantes. Não pela qualidade do serviço oferecido, mas pelo volume do rádio ou pela decoração.
Como uma imagem vale um candongueiro carregado de palavras, aqui ficam alguns exemplos.
Agradece a Hiace ou a carta? Nenhuma é famosa
Logo de manhã, quem sai do centro da cidade depara-se com o trânsito compacto em sentido contrário, com duas filas a ocupar o espaço de uma. É vulgar ver uma terceira fila azul e branca a circular bem depressa já para o lado contrário do duplo contínuo. Quem vai na sua mão, que saia da frente, um candongueiro tem prioridade até sobre as ambulâncias.
Extintores vazios usados como decoração
A concorrência é feroz e há grandes discussões nas praças de táxis acerca de quem chegou primeiro. Acaba por ganhar aquele que conseguir enfiar a frente da carrinha de tal maneira que o outro não consiga passar sem bater.
Voltamos aos nomes parvos
As rotas seguidas são mais ou menos fixas, admitindo algumas variações de percurso consoante o trânsito. Não causa espanto a ninguém quando um táxi destinado à Mutamba faz meia-volta no Largo da Maianga (geralmente fazendo inversão de marcha sobre um duplo contínuo, semáforo vermelho, sem piscas e a ocupar quatro faixas).
Colhem peões nas passadeiras?
Para além dos passageiros, há também lugar para a carga, que é sempre variada. Desde molhos de couves até cabras vivas e um caixão, já vimos passar de tudo.
Ainda chegamos lá vivos
Algumas frotas insistem em levar umas colunas extremamente potentes, que fazem estremecer os bancos dos carros à volta. Tenho a impressão de que deve haver enjoos muito frequentes nesses táxis.
A solução pode ser nova, mas a carrinha é tão antiga quanto o problema
Os consumos destas Toyota são coisas espantosas. Há algumas que devem gastar, seguramente, 4 litros por cada 100 km. 4 litros de óleo, claro. O consumo de combustível é algo a que nem se olha por estas bandas, mas não deve andar muito longe dos 30 litros. A avaliar pelo fumo negro que a maioria liberta, devem todas trabalhar a ramos verdes…
Nem sei que diga
Apesar de serem a melhor maneira de ir de um lado ao outro de Luanda, há alturas em que são (mais) perigosos. Nas épocas festivas, é vulgar haver taxistas bêbados, a conduzir de forma ainda mais temerária que a do costume. Nestes dias, a frequência de táxis também diminui e os preços sobem. A assiduidade e pontualidade do proletariado luandense devem decrescer de forma assustadora.
Este é o meu favorito!
Pela tua descrição a condução é assustadora, mas os nomes também não ficam atrás.
Oi, Afonso, tudo bem?
Estou criando um blog cujo nome é Candongueiros e, com a sua autorização e o devido crédito, queria publicar uma das fotos deste post (a do Tenho Fé).
Posso?
Obrigado e um abraço