Sorriso cúmplice
Afonso Loureiro
Nas ruas vendem-se todos os produtos e serviços, desde os mais simples aos mais inusitados. Cedo descobrimos que todos os nichos de mercado estão ocupados. Os negócios começam por baixo, ao nível do chão, pelos pés dos transeuntes. Os engraxadores tratam dos calçados e os esteticistas dos descalços.
Os rapazes que circulam com limas e vernizes tratam de mãos e pés, não torcendo o nariz às unhas mais encravadas. Usam os próprios pés e mãos como cartaz do trabalho que fazem e não é raro ver um rapaz com as unhas dos pés pintadas de vermelho vivo.
Desengane-se quem achar que este é um negócio como os outros, onde apenas se trocam serviços por dinheiro. Com um pouco de sorte, podemos assistir a histórias engraçadas.
Sentada no muro, com o pé esquerdo apoiado no banco, sorria, fingindo que eram cócegas, e espreitava o rapaz que lhe pintava as unhas que, tentando não pintar o dedo, disfarçava que lhe mirava a cara e o sorriso envergonhado. Os olhares e sorrisos cúmplices de ambos passaram a ser o centro das atenções dos que os rodeavam e quase adivinhei que estavam a corar, pela maneira como começaram a encarar o chão.
estas um escritor de mao cheia parabens
cada vez melhor , e isso tem de ser dito
olalipo
Esta descrição fez-me lembrar a letra da canção “Cinderela” do Carlos Paião.
Muito bonito…muito bem escrito.