Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

26  07 2009

Febre do corta, corta

Ainda não percebi bem o mecanismo da escrita, ou melhor, como passar as ideias da cabeça para as notas e das notas para o texto final. Não se trata só do rearranjo dos parágrafos ou da maneira como se introduz determinado assunto. Muitas vezes preciso de escrever um parágrafo inteiro para concluir que uma só frase bastaria para resumir, sem perdas, o que quero dizer.

Alguns artigos mais azarados (este é um deles), fermentam na lista de rascunhos por longas semanas, crescendo e encolhendo à medida que lhes limo as arestas, junto umas linhas ou canibalizo parágrafos para outros. Os afortunados têm princípio, meio e fim na mesma tirada, mas não se salvam de ver longos trechos amputados na última revisão. Seria tão mais prático acertar à primeira.

Gostaria de saber como fazem os escritores a metro para calar as vozes interiores que lhe gritam, já roucas, que têm parágrafos repetitivos ou que perdem demasiado tempo a descrever coisas banais, que em nada acrescentam à obra. Deve ser uma arte.

Tijoleiras antigas cobrem parcialmente o caminho até uma porta
Retalho a retalho

Nos dias em que estou com a febre do corta, corta, acabo por ter de pôr de parte o texto, com medo que o corte demasiado. Um dia chegará em que desisto dele ou em que o consigo levar até ao ponto em que perco a coragem de o apagar definitivamente. Daí até à publicação, ainda é um pedaço, mas chegará lá, como este.

Tomando as notas e as primeiras versões, não faltarei à verdade ao afirmar que este artigo ficou com cerca de um terço do tamanho. Maldito corta, corta.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Uma resposta a “Febre do corta, corta”

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  1. Não tinha ainda um comentário. Mesmo cortado, entendi e gostei do que li. Voltarei para ler mais aerogramas seus. Também porque está em Luanda, uma cidade que nunca vou esquecer, apesar de aí ter estado pouco tempo, em finais dos anos 60, no século passado…
    Escrevi demais. Não vou reler. Senão, apago.
    Até.

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