Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

21  07 2008

Daqui a nada volta…

Como ainda havia meia mandioca por cozinhar, voltei às frituras. Aquilo é mesmo um petisco. Proibi-me de ir à cozinha nas próximas horas ou acabo com ela e depois queixo-me que comi demais. Acabei de almoçar e comecei a ouvir os geradores a trabalhar na rua. Faltou a electricidade. Não há internet. Tudo normal.

Com a falta de electricidade, os vizinhos largaram a máquina de soldar e no prédio em frente há muitas pessoas à janela. Vejo uma mãe a fumar no último andar. Tem os cabelos muito brancos e usa óculos de massa pretos. Vê os poucos carros que passam na rua.

Admiro as remodelações feitas nos vários apartamentos, desde as máquinas de ar condicionado espalhadas um pouco ao acaso pelas fachadas até às janelas que se vão fechando e abrindo consoante as necessidades.


Para não haver uma corrente de ar, fecha-se a janela

Escrevo sentado numa lata de leite em pó vazia, como tenho visto muitos engraxadores e vendedoras fazer. Não sei se foi intencional, mas os senhores da Nestlé acertaram na altura da lata.

Apesar de haver mesas e cadeiras bem confortáveis cá em casa, no meu quarto não tenho secretária, mas só aí é que há uma janela com rede mosquiteira (a tal que me obrigou a acrobacias na fachada). Optei pela lata do leite e a mesinha de cabeceira, para poder escrever embalado pela banda sonora de Luanda.

O passeio da manhã levou-me até perto do Kinaxixi, onde o antigo mercado foi encerrado e se começou a construir um centro comercial. Começou-se… talvez nunca se venha a terminar.

Aproveitei para ir à casa de câmbios desfazer-me de alguns dólares. Também eu já os uso como maneira de poupar. Os kwanzas servem para as compras do dia-a-dia, mas fogem mais depressa do que uma moeda que não se pode trocar tão facilmente. A menina do outro lado do vidro blindado conta sempre o dinheiro duas vezes à frente do cliente, mas custa a ver o que faz, porque o vidro é muito grosso…

Nas voltinhas que tenho feito até à marginal e ao Estádio dos Coqueiros, já me pude aperceber dos preços de alguns produtos que me vão servir de referência para regatear outros. As bananas são uma boa escolha. Há bananas de 50 Kz e de 100 Kz. As mais baratas são vendidas três-a-três e estão muito maduras, comem-se até ao dia seguinte ou então vão fora. As de 100 Kz vêm aos cachos de cinco e estão mesmo no ponto. Tenho comprado destas. O ideal é comprar a uma vendedora que tenha alguém a vender o mesmo a alguns metros, porque a margem de manobra para inflacionar o preço de branco fica mais reduzida.

As bolachas podem ser compradas mais baratas que no supermercado, é só questão de encontrar a vendedora certa no momento certo. A partir do meio da tarde, perto das paragens de táxi mais concorridas, os preços vão baixando gradualmente. Tenho sorte, há cinco cruzamentos importantes nas ruas à volta de casa.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

2 respostas a “Daqui a nada volta…”

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  1. É pena é o preço do crude também não baixar a certas horas do dia. Dava uma grande ajuda.

  2. As finalidades que uma lata de leite pode ter…
    Engraçado porque a minha mesa de cabeceira funciona como secretária, mas não tenho uma lata de leite como banco, tenho um banquinho de madeira,não estou em África está visto.

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