Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

28  07 2009

Sinais de progresso

Ao fim de muitos meses de Luanda, a cabeça começa a ficar saturada. Gotinha a gotinha, a nossa reserva de paciência vai-se esgotando nas arrelias próprias desta cidade que acaba por se assemelhar a um imenso purgatório onde milhões sobrevivem miseravelmente, expiando pecados que não os seus.

Quando chega o fim-de-semana e preferimos ficar em casa em vez de ir conhecer mais um pedacinho da cidade ou arredores, dando a desculpa do trânsito, dos polícias chatos, das bichas para o combustível, é sinal de que estamos a precisar de sair da cidade para lavar a alma.

Casa centenária arruinada
Paredes velhas

Apesar de ser uma viagem longa e algo cansativa, o Dondo é um destino que não desilude. A pacata cidade acolhe bem as visitas, mesmo sem ostentar os bares da moda ou avenidas acabadinhas de remodelar.

Vendedora
Sopa, pipocas e rebuçados

Os pontos de referência do antigamente ainda lá estão e, felizmente, adaptaram-se à passagem do tempo.

Cervejaria Sol e Pó
No Sol e Pó

Na verdade, o Dondo é uma terra que respira antiguidade e onde o desenvolvimento não se tem feito à custa de paredes derrubadas.

Interior do Restaurante Suiça
Restaurante Suiça

No centro da cidade surgiu um novo hospital, mas nem por isso parece deslocado. Aparenta sempre ter existido, embora saibamos que é recente. Curiosamente, um dos edifícios que agora parece estar a mais, é o antigo Hotel Marginal, com a sua traça típica da década de 1960. Estaria integrado no Huambo ou Luanda. No Dondo, nem por isso.

Hotel Marginal
Hotel Marginal

O novo pavilhão desportivo, que surgiu mesmo atrás do mítico Sol e Pó, prometia ser um mamarracho. Acabado, desmente as nossas suspeitas. Reparamos que está muito bem adaptado ao clima, como, aliás, quase todos os edifícios da cidade.

Novo pavilhão polivalente
Novo pavilhão polivalente

A grande placa escura à entrada não deixa dúvidas de que as obras terminaram há pouco. E ficamos a saber que o Dondo subiu à categoria de cidade há quase quatro décadas.

Placa comemorativa da inauguração do pavilhão
Obra recente

Tal como acontece com o Estádio dos Coqueiros, os serviços religiosos alternam com as competições desportivas. E, desta vez, parece que chegámos em dia de competição de coros religiosos. Foi muito curioso ver a religião misturar-se com os ritmos da terra.

O coro
Os últimos participantes

O actual Governador da província tem feito um excelente trabalho na recuperação de infra-estruturas e na criação ou reabilitação de espaços de lazer, que são tão necessários como água e electricidade. As obras nos espaços de lazer não ficaram pela construção do novo pavilhão. Recuperou-se também o jardim do coreto, em frente à Igreja Matriz.

Coreto do Dondo
Só falta a banda

Ver o Dondo renascer aos poucos faz-nos acreditar em coisas que a vida em Luanda nos diz serem impossíveis. Parece ser possível que o progresso não passe por uma torre de vidro espetada como uma lança no coração da cidade.

Painel de azulejos
Largo de Lazer

Com as forças retemperadas, é hora de voltar para casa!

Meninas do Dondo
Até à próxima!

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

8 respostas a “Sinais de progresso”

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  1. Ainda não tive o prazer de visitar o Dondo. Talvez um dia destes me ponha a caminho. Gostei da ideia das fotos, com o autor da foto no centro da foto. ( Não vá nenhum recente hoteleiro gamar para colocar num quadro do seu hotel. )

  2. Algumas fotografias perdem metade da piada, mas foi inevitável…

  3. Afonso,
    Muito bom esse post, deu uma vontade imensa de conhecer a província. Mas a melhor coias é ver que, agora, você põe uma marca d´água nas fotografias, para elas não serem copiadas por determinado jornal, ahahaah, muito bom, muito bom.

  4. Adorei as fotos e os comentários…preparo-me para visitar o Dondo (minha terra natal) em 2010.
    Agradeço a boa vontade em nos permitir visualizar as ruas da nossa terra.
    Parabéns e continu a tarefa…Um abraço

  5. Onde hospedar-se no Dondo? Existe algum hotel decente? Ao lado do Rio, já vi uma construção bonita, de madeira com tecto de capim… aquilo é quê?

  6. A resposta a todas as perguntas é: não faço ideia. Nunca dormi no Dondo e aquele jango sempre esteve vazio.

  7. quem viveu nos anos 60 & 70 em Malange se por ventura conheceram alguem de nome Gualdina Pereira, sou neto dela, os dois filhos dela ja sao falecidos e eu gostaria de saber mais acerca da minha familia. Era penso, que Cabo Verdiana, vinda para Angola nos anos 40. a quem diga que era MADAME. Se souberem ou familiares que viveram neste periodo em Angola por favor digam me algo. vivo na inglaterra

  8. Dondo é a minha terra natal, nasci no hospital em 1966 aí passei a minha infancia até 1974 altura que vim para Portugal,quem puder que me envie fotos do dondo para matar saudades… valeu

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