Mais-velhos
Afonso Loureiro
A cada final de mês, à porta de casa, assistimos a uma procissão de mais-velhos. Aqui mesmo ao lado temos um banco e, quando chega a altura de levantar as pensões, juntam-se algumas dezenas de reformados à espera de vez para levantar uma mão-cheia de Kwanzas.
Felizmente que aqui não há cadernetas ou teríamos o panorama da CGD, com os reformados a passar os dias a actualizar as ditas.
Outro fenómeno curioso nesta terra cheia de coisas novas, é que estas filas de pensionistas são segregadas. As mulheres ficam à esquerda e os homens à direita. Não sei se é tradição, se respeito ou apenas assuntos de conversa diferentes, o certo é que nunca vi misturas.
Esta deve ser a única altura do mês em que vejo os anciãos. Ou pelo menos, a altura do mês em que se fazem notar. Durante o resto do tempo, há tantos jovens a correr de um lado para o outro e tanta azáfama, que nem mesmo o passo mais pausado denuncia os poucos que chegam a velho.
Por estas bandas, a experiência dos mais velhos é tratada com carinho e ai daquele que lhes faltar ao respeito. Nem mesmo os rufias que pedem dinheiro a toda a gente ousam levantar os olhos do chão quando passa alguém com cabelos brancos. Mães e Pais são sagrados!
Os mais velhos deviam ser mesmo sagrados pelo que já viveram e sofreram… tinhamos tanto em ganhar com a sua sabedoria.
Em Portugal cada vez se vê mais velhos postos num canto… é triste.
Temos muito a aprender com Africa…um abraço.
É com alegria que constato que os hábitos (bons) e a cultura dos angolanos não se perderam com as amarguras da guerra.Há muitos anos, quando eu pensava que o meu País para sempre, seria Angola, também se pensava assim. Havia educação, simpatia, humildade e muito respeito pelos mais velhos.Infelizmente, os portugueses de hoje não cultivam esses hábitos. A partir dos 50 anos as pessoas são velhas(pensam os mais jovens !!!), não sabem já o que dizem (sabem demais)estão desactualizados(são antigos e pertencem ao passado) e por isso são esquecidos muitas vezes nas urgências dos hospitais. Tenho absoluta certeza que os Angolanos nunca o fariam!!! Devíamos, nós todos, e principalmente quem está a educar crianças, incluír na sua formação e educação estes valores há muito esquecidos neste pequeno e “pobre” país. “TIRO O MEU CHAPEU AOS ANGOLANOS”