Os “judeus” de Angola
Afonso Loureiro
Durante séculos, os judeus na Europa foram perseguidos, enfiados em guetos e explorados. A qualquer momento, apenas por serem judeus, poderiam ser expulsos e ver a sua vida de pernas para o ar. No entanto, ao invés de desaparecerem, fizeram das fraquezas forças e prosperaram.
Por serem judeus, descendentes de outros judeus que, reza a história, entregaram outro judeu aos romanos, tornaram-se os bodes expiatórios perfeitos. Todos os males do mundo tinham origem neles. No entanto, foram elementos fundamentais de todas as sociedades europeias. Uma das limitações que lhes era imposta era a da propriedade. Os judeus não podiam ter terras ou casas. E mesmo nas sociedades onde esta proibição não era explícita, a qualquer momento poderiam ver as suas coisas confiscadas.
Uma vez que não podiam ganhar a vida como agricultores, ferreiros ou pescadores, dedicaram-se a ofícios que coubessem dentro de uma caixa ou, melhor ainda, dentro da própria cabeça. Tornaram-se artesãos cobiçados em todo o mundo. a qualquer momento, mesmo que perdessem toda a riqueza material, poderiam começar de novo, porque a arte que tinham levado uma vida inteira a aprender, e transmitiriam aos filhos, seguia sempre com eles.
Mecânicos de instrumentos precisão, cartógrafos, entalhadores ou lapidadores de diamantes eram profissões que requeriam uma vida inteira de aprendizagem, fora do alcance de quem se tentava aventurar pela primeira vez na matéria. A sua riqueza residia no domínio de conceitos para além dos que se preocupavam apenas com a propriedade. Ainda hoje há resquícios desta tradição de ofícios que passam de geração em geração nas famílias judias, quando se fala de tarefas muito especializadas.
O que tem este pedacinho de História a ver com Angola? Bem mais do que parece, asseguro-o.
Há anos que se ouvem apelos para que se aumente o investimento estrangeiro em África. Angola faz o mesmo, pedindo que estrangeiros montem fábricas, giram explorações agrícolas, criem empresas. Mas os estrangeiros não vêm. Estão receosos. E têm boas razões para isso. As mercadorias que todos os dias chegam ao Porto de Luanda foram todas pagas antes de embarcarem, fruto de grandes calotes no passado.
A experiência mostrou-lhes que o investimento em países africanos significa, quase sempre, enterrar enormes quantidades de dinheiro num projecto e, quando finalmente começa a haver retorno, este é nacionalizado, confiscado ou apenas roubado. No fundo, é a situação dos judeus durante a Idade Média.
Em Angola, apesar de não ser requisito legal, é obrigatório que haja sócios angolanos no investimento estrangeiro. Sem eles, as portas fecham-se e o que paga em gasosas não compensa a parte dos lucros que se tem de pagar ao sócio que só entrou com o nome.
Os estrangeiros temem, por experiências anteriores, que a qualquer convulsão social ou política, haja uma vaga de nacionalizações que os faça perder tudo. Neste momento, em Angola, estão a ficar receosos com a idade avançada do José Eduardo. As convulsões da sucessão podem significar nacionalizações ou pior.
Investimento abandonado
Tal como os judeus na Europa, os estrangeiros em Angola são acusados de todos os males, de estarem a retirar trabalhos aos angolanos, de roubarem as riquezas do país, de explorarem o povo. A qualquer momento são ameaçados com ordens de expulsão arbitrárias ou confisco de propriedade. Às vezes, o sócio angolano que investiu apenas o nome passa a ser o único sócio, sem adquirir as quotas correspondentes…
Os estrangeiros passaram a investir principalmente com aquilo que não se lhes pode tirar dos bolsos – conhecimentos. Engenheiros, técnicos especializados, gestores, professores, médicos vêm a Angola vender os seus conhecimentos e habilidades, seguros de que, se as coisas correrem mal, poderão voltar para casa sem perder o investimento e a mercadoria.
Felizmente que, com o fim da guerra, esta imagem está a ser menos frequente. Os técnicos angolanos começam, finalmente a surgir. Pela lei da oferta e da procura, os estrangeiros serão cada vez menos necessários, primeiro para as tarefas básicas e depois para as outras.
Caro Afonso,
Considero muito pertinente esta sua reflexão sobre os “judeus” de Angola. Particularmente os “judeus” portugueses em Angola. Expatriados, tal como os judeus portugueses do passado, não por lhes ter sido roubada a pátria ou para fugirem da fogueira, mas buscando melhorar a sua vida, deparam-se com novas formas de inquisição. Um dia acender-se-á uma luzita e os inquisidores recolhem ao mosteiro. Foi o que aconteceu aos outros.
Sobre os judeus portugueses saíu recentemente uma HISTÓRIA, de Carsten L. Wilke, edições 70 que é um livro extraordinário. O autor assinala na introdução que “… a recordação de um século de ouro (XV) foi conservada pelos expatriados e seus descendentes. A ideia de um passado comum e de uma pátria inacessível tornou-se para eles ponto de partida de uma civilização de exílio, confortada por um judaísmo reinventado.”
Um abraço
Elmiro
caro afonso e primeira vez que participo neste blog com o meu portugues desaportuguesado queria deixar deixar ca umas linhas sobre a descolonizacao e angola mesmo nao sendo angolano passei uma boa temporada em angola ainda aem tempo de guerra e curioso que no edifcio em que vivia havia muitos portuguese angolanos ( brancos ) um deles uma vez em conversas de quintal disse q tinha nascido em angola qual nao foi o meu espanto depois passou a contar que o pai em 1975 recosou se abandonar angola porque acreditava que era ai a sua terra afinal tinha nascido la disse tmb que a maioria dos angolanos brancos acobardarao se em 1975 e por isto abandonarao angola o q nao aconteceu com a africa do sul tivesem eles ficado e batido o pe no chao tivesem eles dito q independentemente do governo branco ou negro que nao saiao de angola porque afinal erao angolanos hoje a historia de angola seria outra a minha pergunta foi a seguite sera que eles sentiao se ms portuguese duq angolanos apesar de terem nascido em angola e em muitos casos nem sequer concheciao portugal porque sera um grande abraco e desculpe o meu pessimo portugues es funcionaro da united nation in angola
O clima vivido em 1975 foi propício ao abandono. Um exército que se recusava a combater até mesmo para proteger os seus nacionais, oficiais superiores com outras missões que não as incumbidas pelo Estado e uma ponte aérea que prometia ser a salvação quando lhes fossem bater à porta de casa homens armados.
A História teria sido diferente e, provavelmente, Angola seria hoje um país mais equilibrado. A independência era inevitável.
Os planos de reconstrução do país têm quase sempre como meta atingir os níveis de produção de 1973, altura em que Angola tinha o segundo maior Produto Interno Bruto de África. Para não ficarmos com a interrogação “Porquê?” a martelar-nos a cabeça, evitamos pensar nos vários “e se os colonos tivessem ficado…?”
Sou um empresario do setor de reciclagem de Plasticos no Brasil,tenho vontade de instalar uma empresa semelhante a minha aqui do Brasil em Angola para divdir conhecimentos,
Não compreendo como minha atividade poderia prejudiucar nossos irmãos Angolanos…..tenho varios amigos em Angola,
ANGOLA é o pais do futuro….futuro não||| PRESAENTE |||
Abraços Afonso.
li a voca mensagem e gostei muito mas acoisa estou a precurar a localizaçao da comunidade judaico em luanda
mas acoisa que eu quero muito e’ de ver uma beth hamidrash, ou um centro para aprender porque e’ o meu sonho.esto no bairo cassenda rua unidade luta
Só espero não ver filhos de retornados armados em parvos em ir para Angola fazer figura de “otários”.
Para otários já bastou a ingenuidade dos pais. Trabalhar para aquecer.
A fabrica que aparece na foto FALPA era uma das mais morenas do mundo, com tecnologia da Alemanha e tem dono, que e o Sr .REGO, que e natural de Angola- Caxito e ainda vive em Luanda.a fabrica foi destruída na guerra entre os Angolanos.