Hora de Verão
Afonso Loureiro
Invocando motivos de poupança energética que ninguém percebe bem, muitos países usam a hora de verão. A determinada altura toda a gente anda com os relógios para a frente ou para trás, para curtir o jetlag durante uns dias. Seis meses depois fazem o mesmo, mas no sentido inverso.
A electricidade que se poupa no final do dia porque se usa mais iluminação solar, é desperdiçada logo de manhã, porque todos estão ainda às escuras. Na verdade, como toda a gente trabalha com computadores todo o dia, não interessa se lá fora faz sol ou não. E há milhares de escritórios que não têm iluminação natural. A hora de Verão é uma daquelas tradições cretinas que ninguém percebe, mas que também ninguém tem coragem para deixar de a cumprir.
Já em Luanda, onde não se usa a hora de Verão porque seria apenas mais uma desculpa para os atrasos que agora se imputam ao trânsito, as coisas são muito mais simples. A EDEL resolveu a problemática da poupança energética criando um período em que todos poupam (a não ser que tenham gerador em casa, claro). A seguir ao mata-bicho cortam a electricidade a um bairro inteiro. As pessoas deixam de ter luzes acesas sem necessidade, deixam de ligar as máquinas de ar condicionado nos quartos vazios ou de ver televisão. Todos poupam. Quem tem livros, lê na rua, quem não tem, bebe a cerveja que tem no frigorífico antes que fique morna. Bebe-se mais cerveja do que se lê livros…
Quando as pessoas começam a ver a vida mal-parada e o Sol a descer sobre os bares da ilha, a electricidade volta a ser ligada. Faz lembrar as campanhas de apagar as luzes por uma hora que ocorrem todos os anos. Os objectivos do dia foram cumpridos.
A grande chatice é que os sistemas de águas da cidade dependem muito de bombas eléctricas e, passados alguns minutos de cortarem a luz, as torneiras deixam de correr. Se calhar, é também uma medida para poupar água.
Para compensar a poupança, há dias em que a iluminação pública fica acesa durante o dia…
O que se poupa nuns dias gasta-se noutros
Alfinetadas nos pontos certos… 😀
O que é giro é ver uma cidade com 5 milhões de habitantes usar a electricidade produzida pelas infra-estruturas que, em 1975, tinham capacidade para 700’000 pessoas. Viva a fé no gasóleo!