Le Corbusier de Luanda
Afonso Loureiro
Luanda da década de 1970 era uma cidade moderna. Poderia quase arriscar que a mais moderna de Portugal.
Os exemplos são muitos, desde a maior liberdade para expressar opiniões, à quase livre circulação de livros marcados como proibidos na metrópole, passando pela mentalidade dinâmica e empreendedora das pessoas, mas também pela arquitectura.
Bem no centro de Luanda há uma mão-cheia de exemplos da arquitectura de estilo moderno que marcou a vanguarda da arquitectura durante décadas. Um bom exemplo é o edifício do Ministério das Obras Públicas, que fecha um dos lados da Praça da Mutamba. Não o escolhi de forma inocente. Afinal de contas, está paredes meias com a antiga Travessa da Mutamba, quase simbolizando o Presente a olhar o Passado transformar-se em Futuro.
O Estilo Moderno na arquitectura teve um dos seus principais impulsionadores um senhor que assinava com o pomposo nome de Le Corbusier e ficou também conhecido por desenhar aqueles sofás desconfortáveis que abundam nas salas de espera de certas repartições. Esboçou o estilo em cinco princípios simples.
A primeira inovação do estilo foi a de que os edifícios deveriam nascer, não do chão, mas a partir de pilares, permitindo que o logradouro se prolongasse para o interior. A estrutura dos edifícios deveriam estar separadas das fachadas, para que fosse possível criar grandes janelas horizontais, elementos decorativos ou até mesmo palas para fazer sombra nas vidraças. Linhas direitas e um terraço a fazer as vezes de telhado demonstravam a aposta no novo material de construção, o betão armado. Com as paredes dos edifícios a suportar cargas maiores, foi possível criar salas amplas, limitadas apenas pelos desejos do arquitecto.
Julgo que o Ministério das Obras Públicas cumpre todos os requisitos para ser considerado de Estilo Moderno. Le Corbusier tinha ainda mais um requisito favorito, que era o de, sempre que possível, usar o Número de Ouro para as proporções das coisas. Não o incluiu nos cinco princípios por achar que poderia ser encarado como uma limitação ao estilo. No entanto, quase aposto que o MinOp também segue esta recomendação.
Meu caro
Os seus comentários são politicamente muito incorrectos face ao regime actualmente vigente em Angola, onde se pretende apagar de qualquer modo vestígios do período colonial.
Ao afirmar a qualidade de algo que se fez naquele período está a abrir a Caixa de Pandora.
Olhe que os tugas/pulas foram uns grandes patifes e é por causa deles que Angola está em hoje tal atraso que mete dó.
Veja lá no que se mete!
A propósito, o edifício em causa pelo menos não tombou inteiro como aconteceu recentemente com um edifício na China. Aliás, não me recordo de no tempo colonial haver edifícios que se desfaziam ao mais pequeno encosto.
Enfim, este meu anterior parágrafo foi apenas um desabafo reaccionário.
Oh, the irony.