Subtensão crónica
Afonso Loureiro
Assim que começa a vir o calor do fim do Cacimbo, a tensão em Luanda começa a baixar. A eléctrica, entenda-se.
Com o arranque de milhares de máquinas de ar condicionado um pouco por toda a cidade, a carga nos circuitos é superior à que os grupos geradores são capazes de gerar. A tensão, que deveria rondar os 230 V, a custo mantém-se nos 200 V. De cada vez que alguém acende uma lâmpada, as restantes tremeluzem. De cada vez que a bomba de água arranca, os estabilizadores de corrente soltam estalidos, as luzes ficam amarelas e os frigoríficos sobressaltam-se.
A dada altura, a tensão baixa tanto que a corrente nos seccionadores dos postos de transformação é demasiada e obriga a que abram os circuitos. Um quarteirão fica às escuras durante umas horas.
Os circuitos eléctricos, tal como as redes de águas e esgotos, não foram feitos para andar a ser ligados e desligados. Funcionam melhor e duram mais tempo se as cargas forem constantes. Os cortes frequentes não dão saúde nem aos aparelhos de corte e transformadores, nem às instalações, que já não são famosas, nem aos equipamentos dos consumidores.
Instalação eléctrica-tipo
A parte melhor é que cada corte potencia a existência de uma sucessão deles. Se, durante o dia, as máquinas de ar condicionado e os frigoríficos vão arrancando alternadamente, à medida das necessidades, o que fazem os frigoríficos de um quarteirão inteiro depois de uma horas desligados? Arrancam em conjunto, claro está. A grande demanda nas correntes de arranque multiplicada pelo número de compressores vai provocar uma nova subtensão que, por sua vez, poderá originar um novo corte. A verdadeira pescadinha de rabo na boca…
O quadro eléctrico é espantoso. Faz-me lembrar um que existia em casa dos meus avós há cerca de 30 anos, mas com menos pó. Boa sorte com as contínuas falhas de corrente.
Cpts
Isto, numa cidade com infra-estruturas pensadas para 700 mil habitantes, mas que actualmente tem 5 milhões…