Cirurgiões
Afonso Loureiro
Os médicos de cada região têm tendência a especializar-se nos problemas que os rodeiam. Com muitos a tratar as mesmas doenças, é certo que surgirão especialistas de renome internacional com maior frequência. Na Índia há muita gente a precisar de óculos e, talvez por isso, se oiça muitas vezes dizer que os melhores oftalmologistas são indianos.
Da mesma forma, asseguraram-me, os pneumologistas africanos são excelentes, uma vez que se dedicaram a estudar doenças que costumam ser bem mais graves em África. São estereótipos e valem o que valem, bem sei.
Em Angola ainda há poucos médicos angolanos a trabalhar. Especialistas menos ainda. Em todo o país há um neuro-cirurgião, por exemplo. Olhando para os problemas que afectam a população, não são muito diferentes dos que preocupam os países vizinhos. Aparentemente, seria difícil dizer em que se distinguiriam os médicos angolanos.
Mas uma voltinha pelas ruas de Luanda elucida-nos depressa. Cada fachada é uma verdadeira rede de tubos e canos instalados para contornar entupimentos ou roturas. A medicina angolana irá fornecer muitos bons cirurgiões cardio-toráxicos especializados em operações de bypass coronário múltiplas.
Esgoto entupido, problema resolvido
Por vezes, o doente está num estado tão grave que um só bypass não é suficiente. O cirurgião angolano não se deixa intimidar e instala uma rede complexa de ligações paralelas capaz de fornecer água e retirar esgotos com maior eficiência que a rede original.
Não há enfarte que resista
O próximo passo será direccionar todos estes exímios cirurgiões para as faculdades de medicina, onde poderão aprender a aplicar a sua arte em doentes humanos. Daqui a uns anos, Angola vai exportar petróleo, diamantes e cardiologistas de renome!
Bom, e daí, talvez não…
Sem comentários, digo-lhe eu.
Boa noite.
Meu caríssimo, afinal os angolanos nem são assim tão originais na técnica do desenrasca, já que aprenderam com os tugas…
Gosto do que escreve e acredito em África, concretamente a que fala português!
África tem futuro e a prova é que até Angola, acabada de sair da guerra, começa a recuperar o tempo perdido.