Maravilha da Física – Entropia negativa
Afonso Loureiro
Desde que se começou a olhar para o mundo com equações matemáticas, tentando desvendar os seus segredos mais íntimos segundo o racionalismo newtoniano, ainda que às vezes salpicado com alguma alquimia, que se percebeu que a desordem é a natural evolução das coisas. A entropia, que mede a desordem, apenas sabe crescer. O futuro do Universo que conhecemos é uma massa homogénea totalmente desorganizada.
Angola é um país que pode ser descrito como um sistema de elevada entropia, tal é a desorganização que encontramos a cada esquina. Por outro lado, podemos concluir que Angola segue na linha da frente em direcção ao futuro inevitável – isto é que é progresso!
O sonho de todo o Físico teórico, experimental ou assim-assim é descobrir a forma de inverter a entropia. Quem o fizer ganhará não só o Prémio Nobel, como o agradecimento de todos os construtores de castelos de cartas com gatos em casa.
Por todo o mundo se gastam rios, ou melhor, oceanos de dinheiro em novas máquinas e experiências complexas para encontrar pistas que levem à descoberta de formas de abrandar a entropia. Aceleradores de partículas ou laranjas de Silves, detectores de neutrinos e bosões provavelmente inexistentes, contadores de gatos de Schrödinger ou compactadores de lixo e máquinas de transformar porcos em salsichas, tudo serve para a pesquisa. Resultados práticos após mais de um século de experiências – nenhuns, nem sequer uma máquina de transformar salsichas em porcos. Apenas um considerável aumento da entropia nas bibliotecas e arquivos onde se acumulam as teses sobre o assunto.
Mas os angolanos, que já se viu, estão muito à frente da maioria, escondem um segredo tremendo. Inventaram a máquina da entropia negativa! Como todos os segredos desta magnitude, deve estar abrigado do olhar cobiçoso dos estrangeiros. O melhor lugar para o esconder, é a sede do Departamento de Estrangeiros e Fronteiras, por razões óbvias.
Para ajudar a disfarçar, está camuflada de forma a que se confunda perfeitamente com o que a rodeia. Assemelha-se a um normalíssimo armário arquivador metálico com quatro gavetas fundas e uma fechadura. A fonte de energia é, para já, desconhecida. Não se vislumbram cabos ou tubos a ligar a máquina a lado nenhum. Talvez seja alimentada apenas pelo constante abrir e fechar das gavetas.
Pelo que me foi dado a perceber, introduz-se um conjunto de objectos ordenados grosseiramente e, à medida que se retiram elementos e acrescentam novos conjuntos ordenados, o sistema vai-se ordenando a si mesmo, reduzindo a entropia inicial. Uma descoberta fantástica!
Como povo prático que é, os angolanos resolveram guardar passaportes nesta máquina. Agarram num molho deles e põem-nos mais ou menos por ordem numa gaveta. À medida que vão recebendo novos passaportes vão-nos introduzindo no meio dos restantes, aproximadamente nas posições certas. A dada altura chega um estrangeiro para levantar o seu passaporte. O funcionário vai procurando por ordem alfabética até chegar à posição esperada. Se o encontrar, retira-o. Se não o encontrar, quer dizer que ainda tem demasiada entropia e não encontrou o seu lugar devido. Caso a máquina não existisse, teria de verificar os passaportes um a um, mas assim, basta-lhe esperar «Volte cá amanhã». Entretanto, outros pedem os seus passaportes, fazendo variar a ordem dos documentos dentro da máquina.
No dia seguinte, o estrangeiro da véspera torna a pedir o seu passaporte. Se tiver tido a sorte de que os últimos passaportes retirados tenham feito o seu deslocar-se para o sítio devido, leva-o consigo. Caso contrário… «Volte cá amanhã». Este ciclo repete-se até que o documento chegue, finalmente, a colocar-se entre os que o deveriam ter rodeado desde o princípio.
A teoria
Esta máquina é fabulosa! Em vez de se desperdiçar energia à procura de uma coisa que se sabe vir a aparecer eventualmente, basta esperar pelo dia seguinte. A entropia reduz-se pouco a pouco até se anular completamente para cada passaporte e tudo isto sem qualquer esforço ou cansaço!
Penso que talvez funcione com base no princípio de que a entropia média do conjunto se mantém estável ou que cresce muito lentamente à medida que se lhe acrescentam elementos, mas que a entropia de cada elemento isolado vai variando negativamente.
Demasiada entropia
Agora só espero que não deixem esta ideia desaproveitada em tarefa tão simples como gerir passaportes. Há muitos sítios em Luanda onde podiam começar a fazer umas experiências…
A propósito, a entropia do meu passaporte já foi anulada!
Ha-ha-ha
Você também podia fazer um post sobre a contribuição de Angola para o despertar de sua veia filosófica.
Abraços
Caro Afonso,
Não será o caso, bem mais simples, de ao lado do arquivo geral se posicionar uma secretária com uma gaveta onde se refugiam estrategicamente os passaportes de mal com a ordem regulamentar?
Um abraço.
Elmiro
Há que tentar acreditar que essa secretária não existe…
Tenho um amigo, q por acaso até está cá em Angola, q usa a teoria dos anõezinhos, aqueles q ficam dentro dos aparelhos e q tiram café, dão maços de tabaco, escrevem as folhas das impressoras, etc. Quando qualquer coisa avaria é pq o anãozinho está de folga. Se calhar existem bué de anõezinhos na DEFA 😉 Todos enfiadinhos por ordem alfabética dentro dos arquivos a ordenarem os processos e a diminuir a entropia 😀