O estrangeiro cada vez mais próximo
Afonso Loureiro
Hoje senti-me completamente estranho nesta cidade a que me tenho vindo a habituar. Percorri as ruas da baixa durante toda a manhã e foram poucas as pessoas que compreendi.
Mas esquinas, grupos de pessoas falavam línguas que não percebo. Cruzavam-se comigo libaneses a conversar em árabe. Os chineses na obra gritavam coisas uns aos outros com aquele ar cordial com que dizem as coisas. Algo se passava atrás do tapume, mas não sei se falavam do almoço ou da obra.
Os cobradores dos candongueiros, pendurados na porta com o braço direito no ar anunciavam destinos com um sotaque mais carregado que o habitual. Juntavam-se às peixeiras que, no meio das buzinas, apregoavam qualquer coisa com escamas.
Dois sujeitos altos e louros esperavam alguém à porta de um edifício, provavelmente o motorista. Conversavam entre si numa língua eslava que não identifiquei.
Por momentos, julguei ter acordado numa cidade onde todos se compreendiam menos eu.
A definição de fronteira, segundo a tradição africana, é a língua. Onde as pessoas falam uma língua diferente da nossa, são estrangeiros. Aplicando esta definição apenas temos a confirmação de um facto já conhecido. Este mundo está a ficar cada vez mais pequeno.
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