Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

27  10 2009

Aeroportos e pontes a duplicar

Rodeadas de mistério, as obras do novo aeroporto de Luanda vão avançando a ritmo desconhecido. Daqui a uns meses ou anos, a capital terá um novo aeroporto a cerca de cinquenta quilómetros do centro da cidade, numa zona rodeada de pântanos e lagoas que, todos estão certos, irão dar origem a nevoeiros cerrados. Se as rádio-ajudas funcionarem tão bem como as do actual aeroporto, será um problema aterrar em segurança. O 4 de Fevereiro não poderá encerrar tão cedo, apesar de se dizer que tem a capacidade esgotada e não se pode expandir. Deixou-se que fosse engolido pelos bairros de casas de chapa e metade está afecto aos militares, que têm uma base aérea cheia de espaço em Cabo Ledo.

Não sei porquê, mas lembrei-me da megalomania do novo aeroporto de Lisboa, com a Base Aérea do Montijo do outro lado do Tejo, ou o Aeroporto de Beja para os voos de carga.

As estruturas de betão como os viadutos, barragens e pontes são desenhados para uma vida útil que ronda a centena de anos na maioria dos casos. Causa estranheza ler editais de concursos públicos para a construção de novas pontes onde já as há. Com tanta falta de pontes no país, a prioridade aparenta ser substituir estruturas com menos de quarenta anos, algumas das quais recuperadas logo a seguir ao fim da guerra civil.

À medida que lia os concursos públicos para a construção das novas pontes sobre o Kwanza, o Keve e o Longa, fui tendo uma sensação estranha. A descrição das novas pontes pareceu-me demasiado familiar.

A ponte sobre o Kwanza, com tabuleiro de betão suspenso por cabos de aço a partir de duas torres, vai ser substituída por uma ponte com tabuleiro de betão suspenso por cabos de aço a partir de duas torres. A ponte sobre o Longa, em arco de betão, desenhada pelo Eng.º Edgar Cardoso, vai ser substituída por uma ponte em arco de betão. Quase parece que se tenta trocar uma obra do colono por outra dos angolanos. A única falha neste raciocínio é que a antiga foi construída pelos angolanos e a nova será por chineses, brasileiros, portugueses ou outros estrangeiros.

Ponte do Kwanza
A ponte do Kwanza

Parece que vão ser mais largas que as originais. Não que eu tenha alguma coisa a ver com isso, mas acho que saíria mais barato deixar a ponte velha em funcionamento e construir uma igual ao lado, e, sinceramente, fico com a ideia de que se está a tentar começar a casa pelo telhado nas obras de requalificação da estrada Luanda-Lobito.

Voltei a lembrar-me de outra megalomania lusa, a de querer ligar Lisboa e Porto por TGV, encurtando a viagem do combóio de Alta Velocidade nuns míseros quinze ou vinte minutos, através de um investimento mais que milionário.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

2 respostas a “Aeroportos e pontes a duplicar”

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  1. Caro Afonso,

    O delírio das grandezas quando ataca os pobres é de fugir. Com os países passa-se algo semelhante. Gasta-se sem tino e quem vier atrás que se amanhe. Nisso o governo angolano e o governo português até parecem brothers. Assim mesmo, sem aspas.

    Um abraço

  2. Vamos fazer Angola à nossa maneira, não precisamos dos caputo.

    Já muitos angolanos falavam assim há mais de 50 anos.

    E parece qu estão a cumprir.

    Claro que os angolanos que falavam assim, eram muito poucos e esses já não caçavam de flecha e zagaia.

    Os outros, de flecha e zagaia, ainda não sabiam que eram angolanos. Será que hoje já sabem?

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