Em Luanda, cheio de sono
Afonso Loureiro
Regressei a Luanda num dia tão nublado que quase diria ser de Cacimbo. O aeroporto e os telhados de chapa com pedras que o rodeiam só surgiram nos últimos segundos da viagem. Antes disso, a única recordação de uma viagem dormida à janela é a de ver relâmpagos iluminar as nuvens algures sobre o equador.
Muitas caras cansadas fizeram fila para o controlo de passaportes. As filas, mais ou menos ordeiras, avançavam lentamente. De vez em quando alguém tentava furar o esquema e apresentar-se no controlo de passaportes diplomáticos ou de tripulações. Nem sempre eram recusados, apesar de terem de conversar um pouco a justificar a pressa.
Imediatamente a seguir ao carimbo aplicado pela funcionária sonolenta vem o controlo à esquina. Por alguma razão, os serviços de estrangeiros acham que o controlo da validade dos vistos feito no computador é de qualidade inferior ao olhar de esguelha que lhe deitam ainda antes da tinta do carimbo secar.
Uma novidade a que já não estava habituado no novo terminal de chegadas é o controlo sanitário. O formulário destacável que era carimbado à entrada foi substituído pelo questionário universal da gripe suína entregue ainda no avião e pela apresentação do boletim de vacinas antes da recolha das malas.
Ao cruzar a porta, fui brindado com um daqueles dias abafados que promete chuva mas sabemos que não vai cumprir. Luanda não é quente, mas tem dias em que nos sentimos cozer. Contra o corrimão acotovelavam-se centenas de pessoas a esticar o pescoço para a porta. Algumas seguravam folhas de papel com nomes de empresas e pessoas. Uns chegavam mesmo a interpelar passageiro a passageiro se eram a pessoa referida no papel. Fiquei a pensar no que aconteceria se tivesse dito que sim…
A grande novidade do novo terminal de chegadas é que a polícia conseguiu correr com os moços das bagagens que se agarram às malas dos incautos e as transportam em passo acelerado até ao carro sabendo perfeitamente que só as voltam a largar a troco de alguns kwanzas. Dentro do parque de estacionamento não se vêem, mas, perto das saídas, assim que o polícia vira costas entram logo a correr dois ou três para «servir» quem sai. Com sorte arranjam cliente, com azar, uma traulitada com o cassetete.
Antes de avião
Fui directamente para o escritório, sem passar na casa da partida ou receber os 2’000$00 – sim, ainda sou do tempo do Monopólio em escudos. Cheio de sono e com um longo dia pela frente até ao banho e a soneca, antecipei um dia mau… e foi.
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