Kínguilas
Afonso Loureiro
À passagem de cada carro, os braços das mulheres ao longo do muro esticam-se, com os polegares a esfregar os indicadores. Para os menos atentos, algumas acrescentam o pregão mais silencioso do mundo, quase sempre dito entredentes, «câmbio, câmbio».
Dentro do parque de estacionamento, os seguranças não permitem que se troque dólares, porque fazem concorrência à casa de câmbio do complexo, mas quanto aos negócios no exterior nada podem fazer. Isso explica porque tantos clientes estacionam o carro e vão espreitar pelas grades do parque.
– ‘Tá a quanto?
– Nove, pai.
– ‘Tá, me dá uma nota só.
Através das grades, duas mãos cruzam-se rapidamente e trocam as notas verdes escuras pelas verdes claras. Todos sabem que é ilegal, mas as taxas de câmbio na rua são sempre muito mais favoráveis que as oficiais os das das casas de câmbio. Para além disso, diz-se que onde há kínguilas, há menos ladrões…
Esse negócio do câmbio vai terminar quando a OUA criar a moeda única.
Na Europa tam bem só terminou com a moeda única.