A mutação dos varredores
Afonso Loureiro
Mesmo aterrando em Luanda em meados de 2008, cedo reparei que o número de varredores de rua aumentou à medida que se aproximavam as eleições. Segundo me disseram, era muito recente a aparição de brigadas de varredores regulares. As descrições que os luandenses me faziam da cidade em 2004 eram dantescas e todos destacavam o fedor. Devo confessar que só fui confrontado com esse cheiro nas zonas mais pobres da capital e numa ou noutra avenida onde os esgotos entupidos transbordam para a rua. Os montes de lixo a cada esquina são, felizmente, cada vez menos frequentes.
Todos os dias, desde há meses, os varredores retiram as toneladas de pó e o muito lixo que se acumulam de um dia para o outro nas principais artérias da cidade. Pode parecer um esforço inglório, porque o trabalho ainda não está acabado e mal parece ter sido começado, no entanto, os resultados começam a surgir. Apanha-se cada vez mais pó e cada vez menos lixo, talvez porque a recolha passou a ser mais eficiente ou porque as pessoas começaram a ficar mais educadas em relação ao lixo. Não todas, obviamente, porque ainda se vê muito lixo ir parar ao chão por preguiça.
Aquilo que começou por ser uma novidade, os fatos-macaco laranja e as vassouras nas bermas, faz agora parte da paisagem urbana de Luanda. Até mesmo os cones com que sinalizam o seu trabalho deixaram de estorvar o trânsito porque passaram a ser normais.
Varredor
Quase no final de 2009, os varredores persistem na luta contra o pó que todos os dias teima em encher as estradas. Comparando com o ano anterior, a principal diferença que notamos reside não no pó ou nas ruas, mas nos próprios varredores. Durante este período, o género dominante passou a ser o feminino. Cada vez mais os homens desistem de varrer ruas, quer seja por ser um trabalho mal pago ou preferirem empregos menos cansativos, ao passo que as mulheres continuam a ser o motor do país, ocupando os postos de trabalho recusados pelos homens.
Eu sei que é aterrorizante mas o sogro já me tinha alertado para este tipo de situações, visto que ele está em Luanda desde 1992 e segundo ele nós nem percebemos o quanto esta “nova” Luanda está óptima, “limpa”, organizada. . ., estranho visto que nós ainda achamos que falta tanto para uma Angola mais “europeia”. Onde vivo, há n varredores, miudos que “comem” pó, práticamente todo o dia,com muito esforço. É um começo!!!!