Tradições de Natal
Afonso Loureiro
O final do ano está ligado a inúmeras tradições. Algumas religiosas e muitas seculares misturam-se criando aquilo a que chamamos a época de Natal. As tradições angolanas para a quadra não são muito diferentes das do resto do mundo cristão, mas revestem-se de algumas particularidades.
Tal como a festa cristã se sobrepôs às celebrações pagãs do norte da Europa para não distanciar as pessoas das suas tradições ao mesmo tempo que aceitavam as da nova religião, também os países socialistas de ateísmo oficial procuraram cumprir os seus programas ideológicos e manter os hábitos instituídos alterando o nome ou substituindo o programa dos dias das festas religiosas.
Nos tempos idos em que Angola era uma República Popular, de economia centralizada e guerra generalizada, os feriados religiosos foram abolidos. Em seu lugar foram instituídos feriados novos, de nomes modernos que, oficialmente, nada têm a ver com questões religiosas, apesar de serem gozados nos mesmos dias. Actualmente, o Natal angolano celebra-se no Dia da Família, a Páscoa no Dia da Paz e o Carnaval, esse é Carnaval até mesmo em Angola.
Todos os anos, nas semanas que antecedem o Dia da Família, como que numa tradição há muito instituída, em Luanda começam a faltar coisas. É uma das particularidades do Natal em Angola.
Uma das situações preocupantes é a falta de gás de cozinha sem razão aparente. Durante o resto do ano, com o mesmo número de garrafas no mercado, não se registam falhas dignas de registo.
O gás esgota no princípio de Dezembro e apenas no mercado negro se consegue adquirir garrafas cheias, a preços especulativos que chegam a atingir oito vezes o preço tabelado. Esta situação leva-me a crer que haja açambarcamento organizado de garrafas de gás para provocar o esgotamento das existências nos distribuidores e, posteriormente, fazer chegar ao mercado paralelo, com lucros astronómicos, algumas garrafas de cada vez. A situação torna-se tão grave que até mesmo os que conseguem comprar garrafas ao preço tabelado nos distribuidores oficiais acabam por abdicar do gás para si e revendem-no a terceiros pelo preço de várias garrafas, estimulando ainda mais o mercado paralelo.
As faltas de energia eléctrica tornam-se também mais frequentes, graças ao maior uso de aparelhos de ar condicionado na estação quente e à crónica falta de capacidade dos produtores de electricidade em suprir as necessidades de Luanda. Associada à falta de luz está a falta de água, porque as bombas que abastecem os depósitos também param.
A tradição mais insidiosa do Natal angolano será talvez as visitas que as brigadas de inspecção dos diversos ministérios fazem às empresas privadas. Vão de empresa em empresa, nos seus carros de luxo, certamente pagos exclusivamente com os seus salários de funcionários públicos, e passam dias à procura de motivos para assegurarem o subsídio de Natal, relembrando, caso os gerentes estejam um pouco esquecidos da tabela de gasosas, que podem sempre aplicar multas, nem que seja sobre coisas absurdas. É curioso que apenas façam estas visitas por esta altura e mais curioso ainda é que não escondam as razões porque lá vão.
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