A Saudade e as mulatas
Afonso Loureiro
Isto de ser Português tem uma série de implicações estranhas. A minha preferida é usar uma língua riquíssima que permite brincar com as ideias de uma forma que se aproxima da poesia, em que as mesmas palavras são capazes de dizer tudo e nada ou que reduzem conceitos indefiníveis a uma única palavra intraduzível para qualquer outra língua. Ao contrário de outras línguas, como o Alemão ou o Inglês, mecânicas e cheias de arestas; no Português as palavras fundem-se umas nas outras sem aquela impressão de malho na bigorna. Reconheço que a língua falada não tem a musicalidade de outras, mas a língua escrita é linda.
Estando fora de Portugal, somos obrigados, mais que nunca, a procurar a nossa identidade. Tentamos descobrir porque somos diferentes dos demais e, acima de tudo, porque razão nos identificamos como Portugueses.
Portugal é um país pequeno mas muito variado, onde se unem pessoas diferentes em torno de um ideal comum que nem eles sabem bem qual é, mas que definem como sendo Ser Português.
Os Portugueses são optimistas natos, embora muitos confundam isso com conformação. Para o bem e para o mal, aceitam a vida como é e tentam sempre ver um lado positivo em qualquer situação, comparando o mal que lhes sucede com outros piores. Seguindo este raciocínio, o melhor exemplo de um Português no cinema é o Igor, assistente do Dr. Frankenstein no filme de Mel Brooks e Gene Wilder Young Frankenstein. O cientista reclama da vida e acha que bateu no fundo na noite em que dá por si a roubar cadáveres num cemitério, com lama pelos joelhos. O assistente Igor acrescenta, com a maior despreocupação, «Podia ser pior. Podia estar a chover.»
Esse optimismo natural resultou no maior factor de distinção dos outros povos. Os Portugueses sabem o que é a Saudade. Não a sabem explicar, mas sentem-na todos os dias. A dada altura, cada Português apercebe-se que a Saudade demora uma vida inteira a compreender e, quando esse momento chega, já não há tempo para a explicar a ninguém.
A Saudade é o desespero da perda adiada e da efemeridade da vida. É o aperto no coração que sentimos porque sabemos que não temos tempo para tudo, mas que disfarçamos aproveitando o melhor de cada momento.
Talvez tenha sido a demanda do significado da Saudade que levou os Portugueses a espalhar-se pelo mundo e serem bem aceites em quase todo o lado. Talvez tenha sido a Saudade que criou as mulatas…
…nem mais!!
Boas festas Afonso.
Exactamente o que eu penso.
O exemplo a do Igor, pode ser substituído por outro: Se se parte uma perna, diz-se que foi sorte … podia ter-se partido as duas.
E quanto ao resto, existem múltiplos exemplos que o confirmam.
Nas minhas andanças pelo estrangeiro, em contacto com outras formas de estar, há muito que conclui que é bom ser português.
Quanto à mulata, não tenha dúvidas …. foi o português que a inventou. E como também foi o português que criou a saudade … lá está, teoria confirmada.