Aventuras culinárias – Filhoses
Afonso Loureiro
Agora que se acaba a quadra do Natal, com todos os seus excessos culinários, resolvo deixar o meu testemunho da aventura que é fazer filhoses como preparativo para Natais futuros.
Ingredientes, com a balança e a medida a jeito
Os ingredientes são poucos, mas convém que sejam bons. Farinha, água, ovos, açúcar, azeite, laranja, aguardente, fermento e sal, segundo quantidades descrescentes, como mandam as regras de rotulagem de produtos no que diz respeito à sua composição.
O fermento produzido em Portugal, mas rotulado para exportação
O primeiro passo consiste apenas em dissolver o fermento em água tépida. Em tempo frio sabe bem aquecer as mãos e a levedura também agradece.
Fermento na banhoca
Numa tigela funda deita-se meio quilo de farinha de trigo. Maiores quantidades implicarão alterações proporcionais aos restantes ingredientes.
Farinha de trigo
No meio da farinha abre-se um buraco a imitar um vulcão e juntam-se os restantes ingredientes. Começa-se com quatro colheres de sopa de azeite.
Azeite
Um cálice de aguardente para a massa e outro para quem apreciar a bebida.
Aguardente
Três ovos inteiros, mas sem casca para dar cor.
Ovos
Uma colher de café de sal, uma de sopa de açúcar e raspa de casca de laranja.
Raspa de laranja
O sumo da laranja raspada também vai entrar na mistura, por isso é melhor ter um espremedor à mão. Aquecer a laranja em água quente ou no microondas ajuda a obter mais sumo.
Sumo de laranja
Depois de tudo bem misturado junta-se o fermento que se deixou na água tépida e começa o verdadeiro trabalho.
Misturando os ingredientes
Corrige-se a quantidade de farinha enquanto se mistura. Para que a massa fique elástica, pode-se ir juntando umas gotas de azeite.
A massa tem de ser batida até se começar a soltar das mãos e da tijela. Quanto mais sovada for, mais fofas ficarão as filhoses. É muito mais repousante e conveniente encontrar alguém que se deixe convencer facilmente e dizer-lhe que é divertido amassar filhoses. Passa-se-lhe a massa para as mãos e pede-se para a ir sovando. Sempre que reclamarem, diz-se que já está quase.
Pronta para levedar
Tapa-se a massa com um pano e deixa-se levedar num local quente até ficar com o dobro do tamanho. Aproveita-se para descansar os braços.
Hora do descanso
À medida que o fermento se vai alimentando da farinha e do açúcar, faz a massa crescer. Passado algumas horas espreita-se a massa. Se parecer ter o tamanho certo, aquece-se óleo numa frigideira funda e esfrega-se as mãos de contente.
Depois da sesta
A receita diz para se tender a massa em forma de nuvens. Pessoalmente, como vejo muitas coisas nas nuvens, prefiro moldar a massa em forma de cachorrinhos, combóios, casas ou outras coisas que se pode ver passar no céu nos dias de Primavera quando estamos deitados num pasto perdido nos montes.
Esticando a massa
Para melhores resultados é preciso ir molhando os dedos em óleo. É aconselhável não usar o da frigideira, que deve estar demasiado quente.
Com dois garfos vão-se virando as filhoses até ficarem douradas. Depois é tirá-las com jeitinho.
Não se espeta as filhoses
Para absorver o óleo quente e deixar as filhoses sequinhas, usa-se muito papel. Antes no papel que nas artérias.
Filhoses à seca
Para quem gostar, pode-se polvilhar as filhoses com canela ou canela e açúcar. Por cá gostamos delas mesmo assim.
Nham Nham!! E estavam bem boas!!!
Foste tu que fizeste? Das duas 4, ou ganhaste muito musculo no peito ou não és tu.
As filhoses fazem-se a dois. Tem muito mais piada.
Só quero dizer que o teu fogão não sabe contar, na última foto diz “9” mas só vejo 5 filhoses…
Só sabe contar pelos dedos.
No sertão do Brasil, mas especifcamente na região do Seridó do Rio Grande do Norte, ainda encontramos filhós.
O mais interessante é que por aqui o que está no imaginário social é que filhós se come mesmo no carnval, principalmente no domingo de entrudo. Antes o doce era usado pelas mulheres para afugentar os papangus que faziam medo nas crianças. O tempo passou e hoje comemos filhoses quando encontramos ou quando alguém faz. Outro dado interessante é que aqui muita gente costuma colocar na massa batata-doce e não usa-se bebida como vocês e nem os formatos que existem por aí. Fazemso bolinhas pequenas com a massa e diferentemente de vocês, preferimos comer o doce com mel de rapadura ou caramelado de açucar.
Obrigada pela receita e pela boa disposição!
Vou experimentar.
Ficam bem, de certeza!