Temporal
Afonso Loureiro
Regressar a casa pelo Natal e ser recebido por um temporal de árvores arrancadas e chuva forte pode não ser a situação ideal para muitos. Pessoalmente, não desgostei. Serviu para quebrar a monotonia de viver o resto do ano num Verão permanente.
Mesmo que o frio pareça ainda mais frio quando comparado com os calores tropicais, não é nada que um casaco não resolva enquanto se dá uma volta no parque e se vê o bafo a condensar à nossa frente. Não é preciso muito tempo para começar a tentar imitar a chaminé de um combóio e depois olhar em volta para ver se alguém assistiu à linda figura «Olha aquele marmanjão armado em petiz!».
O rio que me acordou de noite com o barulho da cascata do açude mostrou que afinal é mesmo um rio e não apenas aquele fio de água do tempo seco. Os patos não acharam muita piada e têm passado as primeiras semanas do Inverno confinados às margens mais altas, porque até os ninhos foram arrastados.
Cães e gatos escondem-se dos trovões. Uns desaparecem nas casotas ou ficam a uivar nos cantos, os outros enfiam-se nos motores dos carros ou trepam às árvores e esperam que o temporal passe.
Depois da trovoada
O velho limoeiro acabou por desistir. Dos três ramos que lhe restavam, dois resolveram separar-se. Depois de cortados, a árvore ficou com um único ramo torto, a parecer um ponto de interrogação grande, talvez porque também se pergunte se resistirá até à Primavera.
Vou aproveitar a aberta para ir rachar lenha. O frio sabe melhor quando estamos em casa ao pé da lareira!
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