Há. Não há. Há. Não há. Há. Sei lá.
Afonso Loureiro
Desde há quase dois meses que a internet cá de casa se comporta como um catavento epilético. De uma maneira totalmente imprevisível a internet vem e vai sem prestar contas a ninguém. Os registos do modem indicam que em cada quarto de hora, isto é 900 segundos, não há ligação durante 540 segundos e em mais 140 tem demasiado ruído para haver transmissão de dados. Sobram 220 segundos de serviço em condições, que se distribuem aleatoriamente pelos quinze minutos em períodos de 15 ou 20 segundos. Antes de andar assim, a velocidade já não era famosa, mas agora brincamos ao dizer que em vez de largura de banda temos intermitência de banda.
Aceder ao correio electrónico ou até mesmo publicar artigos passou a ser missão quase impossível. Usar o skype para ligar para casa ou trocar mensagens é uma coisa tão distante e futurista que nem temos a certeza de que alguma vez tenha funcionado.
Pelo sim, pelo não, trouxe dúzia e meia de livros comigo, alguns bem maçudos, para ajudar a passar os serões. A má notícia é que ando a ler dois por semana e não tarda, vou ter mais serões que páginas.
A esperança de que a situação volte ao normal não se perdeu, mas esmorece a cada dia. Começamos a resignar-nos ao contacto soluçado com a família. Mensagens aqui, telefonemas demasiado curtos e com parcimónia a roçar o excessivo para que o saldo dure até ao fim do mês.
Os abraços e carinhos que fazem falta no corpo fazem agora falta aos olhos e ouvidos. Dos cinco sentidos que usamos para sentir quem amamos usamos apenas o sexto e o sétimo – a memória e a imaginação.
É bem verdade que a memória e a imaginação são o que nestes últimos tempos nos têm aproximado, mas há dias que o desespero toma conta. Dou por mim horas e horas esquecida em frente ao computador com o telefone na mão sempre com esperança de falar contigo e nada. No dia a seguir a mesma coisa… é duro, muito duro. Está quase, agora só falta um danoninho.
Amo-te! (Nestes últimos tempos tem sido pouco dito)
Força a ambos!
Nós sabemos o quão doloroso é a distância, a incerteza dos contactos, e as palavras não ditas mas temos que acreditar que num futuro próximo tudo será diferente e melhor, só assim sobrevivemos à palavra muito portuguesa. . . SAUDADE.
Caro Afonso,
As primeiras vezes que fui a Angola, nos anos 80, a única forma fiável de se estabelecer uma comunicação com o exterior era através de telex. Lembra-se desse sistema, em que ao escrever gravava uma fita de papel picotada, que depois era “lida” para o envio? Talvez já não seja do seu tempo, mas era de longe a única coisa que funcionava. Não era ainda o tempo dos faxes, quanto mais da internet. E uma simples chamada telefónica, de Angola para fora, não interessa onde, tinha de ser encomendada. Vou explicar melhor: ligava para a central e pedia, por exemplo, uma chamada para a sua mulher. As operadoras marcavam o dia e a hora e, quinze dias depois, no momento programado, o Afonso rezava para que a ligação fosse estabelecida, porque às vezes era, outras vezes não era. Como agora lhe acontece com o sinal da internet. Mas então, acredite, se hoje sofre por sentir-se isolado, não imagino como conseguiria sobreviver nessa época.
Abraço,
Alexandre Correia
PS – É verdade que foi no século passado, mas também não foi assim há tanto tempo…
Bem sei que somos uns verdadeiros nababos no que toca a comunicações, mas quando não se conta com elas talvez custe menos.
Olá, Afonso!
Permita-me que o trate já com alguma proximidade (ainda que virtual. Sigo o seu blog há já algum tempo, assiduamente e com muito interesse. Quando li este post, não resisti e tive de comentar. Porque vivo uma situação semelhante á vossa. Sei o que é estar frente ao computador, experimentar o skype e não dá, o tempo que demora a receber as respostas por msn é desesperante e dificulta imenso o diálogo. Não há dúvida que por vezes é muito dificl…
Resta o consolo que já falta pouco e em breve estará de volta a Portugal…
Obrigada, Afonso, por contribuir muita vezes para que eu compreenda melhor as histórias que me conta o meu mais que tudo. É que ás vezes são tã insólitas, que nos parecessem impossiveis…
Continue… continue sempre…