Dinheiro às pinguinhas
Afonso Loureiro
Uma mina de dinheiro fácil foi descoberta recentemente pelos corpos de fiscalização dos diversos municípios de Luanda. Ao contrário das minas vulgares, e daí ser de dinheiro fácil, esta não causa calos nas mãos ou dores nas costas. Causará, se tanto, pescoços doridos ou carecas molhadas.
A mais actual multa-do-dia que os fiscais aplicam tem como justificação as irritantes pingas que as máquinas de ar condicionado deitam para a rua. Com a quantidade absurda de aparelhos instalados em cada fachada, não é preciso sequer andar muito para se encontrar infractores. O fiscal sobe a rua, olhando para o chão à procura de poças suspeitas ou até sentir uma gota na cabeça, afasta-se, identifica a máquina em contravenção e parte à procura do seu proprietário.
Os 50’000 Kz de multa, cerca de cinco ordenados mínimos, chegam a ser ridículos face ao crime. O carro estacionado indevidamente fica por cerca de metade. Pelo mesmo preço compra-se um aparelho novo ou, por um desconto substancial, adquire-se uma graciosa extensão do prazo, a negociar com os fiscais, para reparar a falta. Expia-se o pecado com uma indulgência, digamos.
Em qualquer parede se encontram máquinas
Nalguns prédios, as gotas provenientes dos andares mais elevados vão-se dispersando ao embater na fachada, nos peitoris das janelas ou nas outras máquinas mais abaixo. Acabam por se transformar numa névoa fina levada pelo vento a que se juntam as gotas grossas dos andares mais baixos. É difícil prever onde vão cair as gotas neste Pachinko aquático e o mais seguro é mudar de passeio.
É certo que é aborrecido cair água das fachadas, até porque ficamos sempre na dúvida se a água vem dos condensadores ou de um esgoto improvisado. Todos concordam que o regulamento não o permite e que é bom que assim seja. É desagradável andar a fazer gincanas nas ruas a contornar as goteiras suspeitas e a evitar olhar directamente para cima. Os fiscais não chegam a todo o lado nem acodem todas as situações provocadas pelo desordenamento da cidade, e defendem que têm de começar por algum lado, mas é preciso convir que haverá outras prioridades na cidade que não passam pelas goteiras do ar condicionado.
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