Homogeneização
Afonso Loureiro
O mundo tem vindo a ficar cada vez mais pequeno graças à tecnologia e à sede de lucros dos accionistas das grandes multinacionais. O intercâmbio de culturas têm-se dado num único sentido – a cópia do que se vê na televisão. É mais fácil lidar com as pessoas quando todos pensam da mesma forma ou se adaptam ao modo de pensar estabelecido como padrão. As empresas alimentam expectativas e desejos antes de começar a vender os seus produtos. Primeiro é preciso criar o mercado para o objecto padronizado. Em vez de adaptar o produto às pessoas, adaptam-se as pessoas ao produto.
A maior riqueza que os povos têm é a sua diversidade. Culturas e hábitos diferentes, línguas ou sotaques que os distinguem, coisas a ensinar uns aos outros. A partir do momento em que deixam de exercer essas suas diferenças e começam a acreditar que o importado é que é bom, perdem mais do que imaginam.
Um mundo sem diversidade é uma coisa amorfa. A perda de uma língua não significa a perda de um vocabulário, significa a perda de conceitos intraduzíveis, de uma História que moldou os sons e os pensamentos dos seus falantes. A humanidade evoluiu graças à diversidade de pensamentos e sensibilidades. Se todos se tornarem iguais, repetindo as mesmas coisas, pensando da mesma maneira, entraremos numa nova Idade Média, mas desta vez a uma escala global.
Caminhamos a passos largos para um mundo homogeneizado, onde os hábitos serão tão iguais entre os povos que será necessário procurar diferenças noutras coisas como a cor da pele ou o tamanho das orelhas. Todos sabemos que este caminho já foi trilhado e com maus resultados. Precisamos olhar para as pessoas como pessoas e julgá-las pelo que têm dentro e não pelo que são por fora.
As pessoas precisam de saber o que as distingue umas das outras. Faz parte da definição da consciência humana. A cultura de cada povo enquadra-nos, dá-nos um referencial para determinar onde nos encontramos na experiência que é a vida. Uma sociedade de clones culturais assusta-me. Ao invés de sabermos quem somos, passaremos a fazer parte de uma manada com instintos iguais, respostas iguais, crenças iguais.
Grande parte das culpas recaem na televisão que substituiu as conversas por um monólogo ininterrupto, que nos conta as histórias que lemos nos livros mas não nos deixa imaginar as cenas, impondo a sua versão como a única aceite; dizendo-nos como são as caras e as vozes das personagens. As referências culturais de muitos limitam-se ao que vêem no ecrã, não sabendo o que os distingue dos que assistiram ao mesmo programa.
Tradições importadas
Num mundo cada vez mais padronizado, homogeneizado e certificado, as pessoas também não escaparam e qualquer dia vão ter embalagem e prazo de validade segundo as normas internacionais.
Os ténis da noiva são de que marca? 🙂